Caro leitor, não leve a mal a repetição de muitas ideias e pensamentos. O “Citar Afonso de Albuquerque” foi apenas para actualizar a memória dos queridos amigos leitores.
Vamos aos princípios especulativos, enunciados em “Nova Ordem Mundial”, página cinco, a que acrescento um quinto: Nenhum sistema político ou religião pode impedir ou limitar a investigação, porque os benefícios colhidos são património de toda a humanidade. Disto resulta que, sem o quinto, as teses das ciências da vida pouco mais são do que a repetição do já dito e escrito. Não está em causa o mérito dos feitores, mas a limitação da lei.
Como nota, refiro que, em Itália, à lei comunitária fizeram um acrescento: para fins académicos a lei não se aplica. Impõe-se que a nossa lei tenha um acrescento semelhante. Da lei limitada em que nos encontramos resulta que apresentei à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e ao Hospital a intenção de executar determinados trabalhos após a jubilação. Devido à lei, não foram aprovados. Um era sobre a imunologia do cancro. Recentemente soube ter sido atribuído o Prémio Nobel da Medicina a investigadores suecos por estudo sobre o mesmo assunto.
Quanto aos princípios operativos, não posso ficar indiferente ao desespero e lágrimas vertidas por uma filha. A mãe, de 63 anos, caiu e fracturou o colo do fémur. É internada na cirurgia e já lá vai quase uma semana. Os doentes em situação semelhante, dispersos pelo hospital, a aguardar o mesmo final… A mãe devia ter sido operada dia 4 de Janeiro, a semana passada, mas ontem a intervenção ainda não tinha ocorrido.
O que me entristece é que, no meu tempo, em situações destas, eram operados no mesmo dia (de noite ou de dia). Vou contar o momento em que isto passou a acontecer.
Visitei a 4.ª Enfermaria de Mulheres, acompanhado pelo responsável, e eu estava com pressa porque tinha que ir operar. Estava uma senhora de idade avançada acamada, de costas, e pergunto a quem me acompanhava: “O que tem esta doente?”. “Não vale a pena”, disse. A seguir, passamos por uma senhora e surge outra deitada: “E esta?”. “Não vale a pena”, repetiu. Voltámos à primeira e eu disse: “Venha a radiografia”. Esta tinha uma fractura do colo do fémur, assim como a terceira. “A partir deste momento, a prioridade são estes doentes. Estes já trabalharam e não sei se os outros irão fazer alguma coisa”. Assim passou a ser. Deixou de haver escaras de decúbito e adiamentos que, na sua grande maioria, são injustificáveis.
Com a partidarice ou com a lei da subserviência criou-se o caos. O Serviço de Ortopedia e Traumatologia, que era referenciado por se equiparar a um dos melhores da Europa, está em agonia.
Como é que o Senhor Reitor e o Senhor Presidente da Câmara não me receberam nem me recebem? Quem será responsável pelo que está a acontecer? Não são os médicos, é o sistema.
Já que não há Governador Civil, não terão o Senhor Reitor e o Senhor Presidente da Câmara alguma responsabilidade?
Querem criar as regiões e arranjar maior inoperância… É isso que já acontece e que seria agravado.
Nota: Tive conhecimento que a doente não foi operada porque está a tomar anticoagulantes. Mesmo assim, no meu tempo, eu operava hipertensões portais em doentes com 15 mil plaquetas apenas. É uma questão de técnica cirúrgica. Tem que ser adaptada às circunstâncias para que os doentes sejam operados.