O centro do país teria muito a ganhar com uma infraestrutura aeroportuária na região. Há muito tempo que penso assim e envolvi-me ativamente na procura de uma solução. Criei, juntamente com outros, o Fórum Centro de Portugal, que desenvolveu esforços, na altura do 1º Governo de Sócrates, no sentido de promover a opção mais lógica que é a adaptação da base aérea de Monte-Real (já lá vão mais de 10 anos). Mais tarde, quando exerci funções como Presidente da CCDRC deixei essa opção bem clara e procurei percorrer o caminho da sua realização, ficando esse objetivo inscrito no PROTC. Infelizmente, por razões várias, não tive oportunidade de fazer uma contribuição mais decisiva. A região não funciona em conjunto, divide-se para o que é essencial e não procura sinergias para realizar aquilo que seria estratégico. Perde-se no acessório e vive muito de egos individuais.
Há dois bons exemplos dessa total descoordenação. Um é este do aeroporto. Existindo uma certa abertura por parte do atual ministro das infraestruturas, logo se iniciou uma disputa entre a região de Coimbra e a região de Leiria sobre a localização dessa infraestrutura. A região de Coimbra insiste em soluções em cima do joelho. A região de Leiria, com vários indicadores muito positivos relacionados com o seu desempenho económico, defende a solução de Monte-Real. Aparentemente, segundo os jornais, o ministro Pedro Santos também prefere essa ideia de adaptar a referida base aérea ao tráfego civil e já tornou pública essa orientação. A região, embrenhada nas suas guerras, em vez de se unir, dando força a um equipamento que é muito importante para toda a região, divide-se em guerras que só nos prejudicam.
Um outro exemplo é a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027. Só na região Centro há 4 ou 5 candidaturas diferentes. Em vez de se unirem e proporem uma candidatura única do centro, multipolar, que aproveite aquilo que a região tem e que nos diferencia, procurando eventos que se realizem em várias cidades da região, os vários promotores insistem em candidaturas individuais. Não sei no que isso vai resultar, mas é claro para mim que uma região que não se consegue unir e não consegue perceber a enorme mais-valia que é ter iniciativas em conjunto, até pela diversidade cultural da região, procurando com isso ganhar escala e vantagem competitiva, é uma região condenada à irrelevância.
As regiões europeias não são entidades independentes. São formas de organização que pretendem dar coerência à cultura, economia e forma de vida de uma região, para com isso serem capazes de se agregarem a outras criando propostas que são muito mais do que a soma das partes: é essa a força da ideia das regiões. Propostas individuais ou que nada somam, atitudes narcisistas, centradas em si próprias e que não são capazes de ver sinergias com os vizinhos, não são competitivas e, na verdade, não são importantes.
O desafio que a região centro tem pela frente é muito complexo se a região não perceber, de uma vez por todas, a necessidade de unir esforços, ultrapassando a divisão em municípios, ou sub-regiões, e procurando formas de agregação que permitam um desenvolvimento mais equilibrado e reforcem a capacidade de explorar mais eficazmente as nossas capacidades e recursos.
Um aeroporto é muito importante. Assim como formas eficazes de circular na região, facilitando a deslocação para dentro e fora do país. Mas também, o desenvolvimento de uma consciência de região que permita que uma pessoa de Castelo Branco, por exemplo, ou da Guarda, se sinta parte da região centro e perceba que faz equipa com Coimbra, Aveiro e Leiria. Essa consciência de região é essencial para a nossa capacidade de atrair atividade económica e com isso combater a desertificação demográfica, potenciando o desenvolvimento equilibrado de todo o espaço da região.
Assistir a guerras regionais sobre localizações de infraestruturas, como se a lógica fosse municipal e não de região, é muito desanimador e é um indicador seguro do insucesso que tem sido característica da região centro.
Pode ler a opinião de Joaquim Norberto Pires na edição em papel deste fim de semana, 25 e 26 de janeiro, do Diário As Beiras