“Mal com el-rei por amor dos homens, mal com os homens por amor de el-rei”. Encontro-me em situação semelhante. Como proceder? Pois, mal com o poder por amor do povo, mal com o povo por respeito com o poder.
Ocorreu-me uma solução. Quando o Professor da Faculdade de Ciências Adriano Pedroso de Lima me telefonou e perguntou se faria uma palestra nas Lojas do Saber (que ocorrem às sextas-feiras no Exploratório), meditei, mas quase de pronto “aceito”. Qual o tema? “Estado Perfeito”. Penso que ficou um pouco perplexo pois levou algum tempo a responder. Mas este tema porquê?
Há cerca de 72 anos, no liceu Diogo Cão, em Sá da Bandeira, o meu Professor de Filosofia e OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação) era o Doutor Lavradio. Sobrinho do Conde de Lavradio, foi comentador em português da BBC, aparentado com os reis de Inglaterra. Eu ouvia-o atentamente quando a bateria tinha carga…
Nós em Angola podíamos emitir opinião diferente da dos professores. Quando, em Filosofia, afirmou que os animais não têm inteligência, mas apenas instinto, delicadamente interrompi-o. Baseado no comportamento dos vitelos e cabras que tinha guardado na metrópole, discordei: “Os animais são inteligentes”.
Foi corroborado posteriormente pelo proceder das aves pomumo e cegonha, na escola, em Cassongue, Angola. A minha mãe foi minha professora primária a partir da segunda classe.
Quanto a OPAN, para ir a exame, tínhamos a opção de fazer um trabalho de casa ou um ponto. Fui o único que optou pelo trabalho de casa. Corrigido, à frente da turma, disse: “Dou-te 20 valores. Tenho pena de não te poder dar mais. Hás-de vir a ser um grande político”. Andava eu no quinto ano. Pouco tempo depois, faleceu a minha mãe.
Ela tinha-me perguntado: “O que queres fazer na vida?”. Quase de imediato respondi: “Juiz ou advogado”. “Olha, meu filho, é um desgosto que me dás. Se fores advogado, hás-de ter de defender muito patife sabendo que o são. Se fores juiz, hás-de ter de condenar muito inocente sabendo que o são. Não te quero com problemas de consciência”. Decidi-me pela medicina. Sábio conselho…
Essa opção deu-me um amplo conhecimento da vida, dos homens e do seu comportamento. Com outra profissão não teria.
Julguei encontrar a solução para este dilema quando, em 2004, entraram 10 novos países para a União Europeia. No cerimonial, que ocorreu no Mosteiro dos Jerónimos, em síntese, os discursos expressavam apenas: novas oportunidades, novos negócios, novos empreendimentos. Fiz um poema, quase de rompante, que designei por “Hino à Europa ou Europeíada”.
Terminava com: “Que nesta nova Europa, neste novo mundo, haja sempre uma lágrima e um sino a tocar quando vamos a enterrar”. Era um apelo à Europa dos sentimentos.
Estava a ser profeta. O Reino Unido, por causa do capital, e não dos sentimentos, já se está a afastar da União Europeia. Publiquei o poema no livro “Nova Ordem Mundial – Contas aos Netos”, que foi escrito em 2004 e publicado em 2005. Aqui, defini princípios designados por especulativos e operativos que serão o sustentáculo do meu futuro proceder. Especulativos e operativos.
Porquê a designação? Fui ao casamento de um filho de um colega e fico numa mesa onde estava um doutorado pela Universidade Pontifícia de Roma e um presidente de um banco. Ocorreu-me perguntar: “O que é a alma e espírito?”. Ficaram calados, mas a pensar.
Demorada a resposta, de pronto digo: “A alma é o espírito especulativo. O espírito é a alma operativa”. Donde a designação dos princípios sustentáculo da “Nova Ordem Mundial”, para que possa haver paz entre os homens, nações e religiões.