Opinião – Veio bater à porta errada

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O título desta crónica é a resposta que Manuel Machado deu, em democracia, a uma jovem vereadora (“uma jovem que parece velha”) em regime de substituição, quando ela, contrariando a morte cerebral em que se encontra a oposição nesta cidade, fez uma intervenção no período de antes da ordem do dia em que referiu os seguintes factos:

1 ) Coimbra é uma “cidade com um futuro promissor, que tarda demasiado em transformar-se em presente”;

2) Coimbra “abandonou a juventude”, é uma “cidade maltratada”, com “uma economia esquecida” e “uma Universidade ignorada”;

3 ) O poder municipal inventou a mentirola do aeroporto “para poder ficar a ver tantas oportunidades a voar”;

4 ) Coimbra é uma cidade cujo poder municipal não aprende, nem quer saber de nada. Na verdade, “quando vemos tanta oportunidade desperdiçada não podemos deixar de constatar que o Partido Socialista perdeu a esperança no futuro do Município. Leuven ou Ghent na Bélgica, Helsínquia na Finlândia, ou Bolonha na Itália são exemplos de cidades que o fizeram bem. Não se exigia a esta governação que inventasse a roda, apenas que aprendesse com os bons exemplos em Portugal e na Europa”;

5 ) Apesar de ter ativos diferenciadores, “como sejam a Universidade e os milhares de diplomados que anualmente lança ao mundo, o rio Mondego, o Instituto Pedro Nunes ou o já esquecido iParque”, este poder municipal é mesquinho e incapaz de, com visão e ambição, fazer deles “o contrapeso para catapultar Coimbra para o futuro”;

6 ) O poder municipal, liderado por Manuel Machado, “vive de costas para o mundo: de costas viradas para a Universidade, de costas viradas para o rio, de costas viradas para o investimento, de costas viradas para a ciência, e de costas viradas para os jovens que aqui nasceram ou que aqui escolheram estudar e aqui gostavam de viver”;

7 ) “Coimbra sofre com a fuga de cérebros porque tem uma estratégia autárquica para o desenvolvimento em morte cerebral. A ausência de uma estratégia integrada de desenvolvimento para a cidade, onde público, privado, território, investimento e conhecimento se cruzem é a maior derrota para Coimbra que vê ano após ano a sua esfera de influência social e económica diminuírem”;

8 ) Coimbra é uma cidade sem ambição, gerida por gente sem ideias e sem brio, incapaz de aprender com “cidades vibrantes que se revêm nas universidades e na criação de conhecimento o seu maior ativo, que vêm nos seus espaços públicos e nas suas frentes ribeirinhas como polos de atração de investimento e de fruição de cultura e lazer”;

9 ) Uma cidade que poderia “investir mais e investir muito melhor”, mas que não o faz por se ter resignado a esta letargia sem sentido.

São factos indesmentíveis. Não há ninguém, no poder ou na oposição, que não se reveja nesta descrição. No entanto, muito estranhamente, a cidade insiste democraticamente nesta letargia. Não quer ser nada de especial, aparentemente desistiu, pelo que se resigna ao dia-a-dia, não faz planos para ser melhor, não espera nada de especialmente excitante do futuro e detesta quem desalinha de tudo isto e mantém uma atitude inconformada.

Eu, pessoalmente, já estou habituado a todo o tipo de reações negativas, pois escolhi, desde há muito tempo, não ser bem-comportado e alertar para o caminho que seguíamos.

Alertei e deitei mãos à obra, sempre que me foi possível. No entanto, não esperava que um discurso deste tipo, acertado, oportuno e muito bem construído, tivesse como resposta (tendo por base o que relatam os jornais), na própria sessão da reunião do executivo da CMC, reações em que se afirmava que “esta jovem, que parece velha, veio bater à porta errada” (Presidente da Câmara) e “perdoo intervenção pela juventude e por estar ausente de Coimbra, desconhecendo o que se passa” (vice-Presidente da Câmara).

É urgente que os cidadãos percebam que sem uma atitude radicalmente diferente, nada será possível e perderemos definitivamente o contacto com o futuro.

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