Um objetivo económico da proposta do Orçamento de Estado para 2020, é fazer a economia crescer 2%. O que será insuficiente para recuperar expressivamente o atraso em que o país está. A realidade é que a distância que nos tem separado dos Estados-Membros mais desenvolvidos da União Europeia (UE) – que integrámos em 1986, plenos de esperança -, se vai ampliando, e que já fomos ultrapassados por quase todos os países que aderiram posteriormente a esta União.
Apesar de provirem de sistemas de planeamento central, estes nossos concorrentes diretos nos mercados têm captado grandes investimentos estrangeiros e exportado muito do que produzem localmente, fazendo crescer as suas economias a taxas superiores à portuguesa. Mas quem ouvir o governo, fica com a ideia (ou com a certeza?!) de que crescemos mais do que a média da UE. O que tem bastado ao povo para, fruto da iliteracia económica, pensar que progredimos imenso.
O governo devia explicar que, se a economia do país crescer em média 2% ao ano, demorará 35 anos a duplicar o que vale atualmente. E que, atingindo a dívida do setor não financeiro (Estado, empresas e famílias) mais de 350 % do PIB (produto interno bruto, que mede a riqueza gerada internamente), logo, 3,5 vezes o valor da produção de hoje, um crescimento tão medíocre como o previsto, nem sequer evitará o crescimento daquela dívida, em valor absoluto. Se esta verdade tão simples importar à nação, talvez venhamos a exigir, a quem nos governar, outras políticas, capazes de fazer convergir muito mais rapidamente a economia nacional com a média da UE.
Para o nosso país remunerar a taxa média dos juros que paga, deveria crescer pelo menos 3% ao ano. E o Estado deveria remunerar a poupança das famílias a taxas superiores à taxa de inflação havida, e à esperada, para estimular a poupança interna. É que, sem captar maiores poupanças e sem atrair mais investimentos, não haverá como pagar juros, nem como apoiar a formação bruta de capital fixo, para aumentar os meios físicos de produção, nem para investir o necessário em setores fulcrais, como educação, formação profissional e investigação, para permitir à economia nacional mais que duplicar o débil objetivo de crescimento, fixado presentemente pelo governo.
Finlândia, Coreia do Sul, Alemanha, USA e Suíça, entre muitos outros países, têm acelerado o investimento em I&D (investigação e desenvolvimento), e há muito tempo que investem a taxas que são mais do dobro das que agora alocamos ao I&D nacional. E como a sua riqueza é muito superior à nossa, o fosso que deles nos separa, irá aumentando. O que não significa que não aumentemos, e muito, o investimento em I&D. Para haver progresso, teremos de o fazer! Até para podermos vir a ser nós, a valorizar alguns recursos endógenos que continuam por explorar.
Só que muitos lembrarão o que evitou a prospeção de possíveis jazidas petrolíferas, e a oposição que existe neste país contra a exploração do lítio. É claro que não basta extrair matérias-primas, há que investir para lhes acrescentar maior valor, e as transformar em bens apetecidos pelos mercados externos. E sem descurar o ambiente! O que só sucederá quando o país implementar políticas industriais tão eficazes, que ajudem a valorizar as fontes de riqueza interna que temos.
Quem governar, terá de inovar, e de dinamizar a economia. Se não valorizar os recursos que há, se não criar inúmeros empregos que gerem maior riqueza, e se não evitar a delapidação de dinheiro em atividades não reprodutivas, este país não vingará. O futuro depende do que, como povo, fizermos agora. E é óbvio que o país só evoluirá mais rapidamente, com políticos dotados de competências extraordinárias! E se não tolerarmos novas demagogias, seja lá a quem for!