Opinião: Será que posso usar a palavra VERGONHA?

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Era uma vez um país amordaçado, pobre, muito desigual e isolado do mundo. Assim se manteve por muitos e muitos anos, sem que a “elite” dominante fosse capaz da menor transformação. Quem se atrevia a fazer a mais pequena crítica era imediatamente silenciado e acusado de não respeitar as instituições.

O país afundava relativamente ao resto do mundo. Um dia, por sorte ou como resultado de um heroico plano, era 25 de Abril. Maravilha, adeus mordaça, viva a liberdade, olá mundo, agora é que vai ser. Vamos fazer e acontecer, vão ser dias de esperança e desenvolvimento. A gaivota voava e eramos livres.

Passaram muitos anos, 45 para ser mais exato.

O país foi à falência várias vezes, teve de pedir ajuda financeira e tem uma das maiores dívidas da União Europeia (a 3ª maior para ser mais exato, equivalendo a 123% do PIB e valendo mais de 253 mil milhões de euros – nem digo em escudos que é para não terem um colapso).

Em 1989, já a gaivota voava há 15 anos e mostrava sinais de enorme cansaço, o país começou a receber fundos comunitários para desenvolvimento regional e coesão. Até hoje recebeu e gastou mais de 100 mil milhões de euros com esses objetivos. A nova “elite”, borrifando-se para a pobre gaivota, juntou-se para o festim.

O resultado global, argumenta a “elite”, sempre preocupada em não ser criticada, é muito positivo. No entanto, o país é ainda mais desigual, com enormes diferenças entre os vários locais do país. Na verdade, um território com pouco mais de 200 km de largura de 650 km de comprimento, consegue falar (sem se rir) em “interior” e dizer, como disse a atual Ministra da Coesão Territorial, que “há largas porções do território que não vamos conseguir desenvolver” e que é necessário “gerir o declínio”.

Na Escola Pública os professores alugam sofás para dormir e assim conseguir “sobreviver” à loucura do sistema, o SNS está em colapso, a Segurança Social anda com o credo na boca, o salário mínimo ronda os 650 euros, um ex-Primeiro Ministro, que ganhou eleições com maioria absoluta, vive com os milhões de contos que brotam do cofre milagroso da mãe, os comboios quando funcionam perdem motores pelo caminho, as empresas públicas faliram quase todas, as que não faliram foram oferecidas e as que não foram oferecidas são geridas em regime de PPP em que os lucros são privados e os prejuízos são públicos.

Em 2008 ocorreu uma crise financeira mundial. Como a “elite” nacional estava muito ocupada no festim, só notou que havia crise em 2011. Até lá, tudo normal e eramos o melhor país da Europa e arredores: a gaivota lá voava muito a custo, tendo de parar frequentemente para descansar e compor as penas. Com a crise, lá apareceu mais uma falência (ou “default”, que é bem mais chique) que exigiu 75 mil milhões de euros de empréstimo, com um “rigoroso” plano de pagamentos em que os interesses nacionais eram, no essencial, entregues a estrangeiros. Saímos “limpos”, isto é, sem nada, do plano de assistência financeira.

Claro que os grandes gestores, endeusados pelas “elites” com as mais altas condecorações do Estado, premiados em todo o lado e que davam aulas nas melhores universidades do mundo, entraram logo em colapso e as respetivas empresas precisaram de ajuda. Os bancos, por exemplo, já absorveram mais de 25 mil milhões de euros (o que equivale a mais do que Portugal recebeu no programa de fundos comunitários PT2020 ).

O BES faliu, o Banif também, assim como o BPN, a CGD faz de conta que não faliu (depois de absorver muitos milhares milhões de euros de dinheiro dos contribuintes) e até já dá “lucro” (LOL), e muitos outros precisaram de enormes quantidades de dinheiro dos contribuintes para se irem mantendo à tona… até ver.

O país perde população há muito tempo. Os fatores são assustadores, mas a “elite” abafa o problema. Vivemos uma tempestade perfeita, mas os temas nacionais, colocados na agenda pelos mais velhos e pelos mais novos elementos da “elite”, são o aborto, a eutanásia, a canábis, a regionalização (a “elite” precisa de lugares) e todo o tipo de “não problemas” que servem somente para distrair.

Os números mostram que em Portugal morrem mais pessoas do que as que nascem, a taxa de fertilidade é 1.31 filhos por cada mulher fértil (era 2.70 em 1974 ), e os jovens mais competitivos, isto é, aqueles que podem mudar as coisas, fartos de um país sem oportunidades e que não se preocupa com eles, procuram locais fora do país para desenvolver a sua vida.

É um país a envelhecer e a desaparecer. PUM! Que susto! Que raio foi isto? A gaivota acabou de se espatifar no chão, quase sem penas e exausta. Posso usar a palavra vergonha? “Shiu! Tenha respeito pelas instituições… quero dizer, pela gaivota”.

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