Sempre foram poucos os Sábios que têm vindo a pensar este nosso “modo de ser português “. Hoje são ainda menos. Destaco dois deles : Adriano Moreira e Eduardo Lourenço. Os habituais escribas da mediocridade, não raramente, esconjuram-nos sem clemência, declarando que o primeiro foi ministro de Salazar e que o segundo aplaudiu uma versão mais esquerdizante do 25 de Abril. É esta a sina de se ser águia num país de pardalecos : serão sempre encarados com a reserva biliosa dos medíocres instalados.
Adriano Moreira pensa Portugal desde os tempos do Estado Novo. E pensa-o, não de um modo castiço, redutormente local, como seria de supor num intelectual de ideologia conservadora. Raras são as suas aparições que venham despojadas de chamadas de atenção, de advertências, de sublinhados a traço grosso para tudo o que nos apouca nesta Europa que nos empurra cada vez mais para a periferia que fomos quase sempre. Os beócios de agora não se esquecerão de lembrar que Adriano Moreira foi e é do CDS. Eles não sabem ( nem sonham…) que há, ou pode haver, preciosidades de inteligência em todos os partidos políticos – e estou agora a lembrar-me de um outro gigante, conservador por natureza, chamado Adelino Amaro da Costa. O entranhado amor de Adriano Moreira pelo seu país é indesmentível. Basta ouvi-lo falar. Se desde há muito vem sublinhando a rasa valia da Democracia que temos, não é porque queira fazer renascer formas de domínio político que ele sabe, como poucos, estarem definitivamente extintas. É porque lhe dói a visão de um país tão entregue a biltres como a túnica de Cristo se viu disputada por soldadesca ébria.
Quanto a Eduardo Lourenço, diria dele que é o nosso mais consanguíneo “estrangeirado”. Vai há muito o tempo em que este académico e ensaísta de primeira linha colocava Portugal no sofá do psicanalista e lhe sondava as entranhas do sentir. Foi, quanto a mim, o pensamento que melhor equacionou o modo possível de inserção da portugalidade e do “logos” lusíada na Europa. Mas agora as mediocridades conservadoras irão dizer que ele acompanhou o PREC com demasiado fogo e crença , ficando assim inabilitado a outra sorte que não fosse a do desejado e desejável silêncio. A nesga que Eduardo Lourenço quis salvar do seu estremecido Portugal foi a de uma ocidental praia que soubesse salvaguardar a identidade própria, apesar de se inserir necessariamente no mundo do possível capitalismo europeu.
Ambos são anciãos. Qualquer dia, contra eles se irá erguer a Parca inexorável. Quem fica? Quem fica? Ficarão os liliputianos do costume.
Portugal mereceria melhor sorte.