Opinião: Desafios do Mar Português

Posted by
Spread the love

O Museu Marítimo de Ílhavo é uma importante estrutura cultural especialmente focada na secular epopeia da pesca do bacalhau nos mares do Canadá e da Gronelândia.

Desde há alguns anos, possui ainda um peculiar e singular aquário de bacalhaus, onde podemos, serenamente, observar estes vorazes peixes, comprovando que o seu formato é oblongo e não triangular.

O bacalhau é um peixe teleósteo gadiforme, da família dos gadídeos. Vive nas águas frias do hemisfério norte, é detentor de um apetite devorador e reproduz-se abundantemente. Um bacalhau fêmea pode produzir até nove milhões de óvulos.

Quando, há cerca de 500 anos, os portugueses iniciaram a pesca do bacalhau nestes mares inóspitos e longínquos, era grande a admiração com tamanha abundância de pescado. Um bacalhau pode viver até 20 anos, pesar entre 30 e 90 quilos e medir até um metro e meio.

No dia 19 de outubro de 2019, o Museu Marítimo de Ílhavo dinamizou um Seminário científico, internacional, denominado “Desafios do Mar Português – Portugal e o Mar: um novo regresso”. Esta foi a oitava edição destes prestigiados seminários.
A conferência de abertura foi proferida por John Brannigan, da University College Dublin, subordinada ao tema, “The Cultural and Social Importance of the Oceans”, na qual estabeleceu uma feliz relação entre a literatura irlandesa e o imenso mar da zona económica exclusiva da Irlanda, um pouco à semelhança do que se passa igualmente em Portugal, cuja maioria do território se encontra no mar e não em terra. James Joyce ( 1882-1941 ), William Butler Yeats ( 1865-1939 ), John Millington Synge ( 1871-1909 ) e Eavan Boland, nascida em 1944, foram alguns dos escritores e poetas evocados.

Ana Avelar, da Universidade Aberta, falou sobre o “Mar: um desígnio português”, salientando o papel pioneiro dos portugueses nos séculos XV e XVI e as suas pioneiras viagens marítimas, desde Ceuta ( 1415 ) até Nagasáqui ( 1543 ).
José Pereira, oficial da armada, abordou aspetos técnicos das navegações portuguesas e os muitos conhecimentos transmitidos pela antiguidade clássica e pelos árabes, devidamente melhorados pelos portugueses dos séculos XV e XVI. Citando Jaime Cortesão, referiu as motivações essencialmente económicas da Expansão Portuguesa.

Ana Garcia discursou sobre a importância das cidades portuárias durante a primeira globalização, ocorrida no período da Expansão Portuguesa. O nosso império marítimo ter-se-á baseado no domínio técnico assim como na ocupação estratégica de determinados portos.

Álvaro Garrido, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, analisou a produção ideológica do maritimismo no Estado Novo português ( 1933 a 1974 ), relacionando a propaganda autoritária do regime com a excessiva centralidade do ruralismo e a fabricação de um nacionalismo aliado do sistema autoritário. Esta produção ideológica do maritimismo constituiu um discurso do regresso de Portugal ao mar, em busca de uma grandeza perdida mas que nos seria obviamente inerente.

Houve ainda tempo para uma mesa redonda dedicada a Bernardo Santareno, com a presença de Álvaro Garrido, Ana Medeiros e Vicente Batalha seguindo-se a palestra de Luís Pinheiro, da Universidade de Aveiro, sobre o “Oceano profundo e a nova fronteira do desconhecido” e a comunicação de Filipa Saldanha, da Fundação Gulbenkian, sobre a “Indústria 4.0 no meio marinho”.

Este magnífico seminário incluiu ainda a inauguração de exposições, o lançamento da reedição do livro “O Lugre”, de Bernardo Santareno, assim como do número 7, da belíssima revista anual do Museu Marítimo de Ílhavo, a Argos.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.