Opinião: Política de Investigação e Desenvolvimento – ou CR7 ou peso morto

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O objetivo de desenvolver um sistema científico e tecnológico nacional (STCN) dando corpo a uma forte vontade de gerar conhecimento, é a acrescida capacidade de fazer desse conhecimento a vantagem competitiva da nossa economia. E isso não é de somenos, muito menos redutor. A economia suporta o nosso modo de vida, paga, através dos impostos sobre o trabalho, o modelo social e, no essencial, está na base dos direitos e garantias por que lutamos e constituem o nosso sistema social e político.

Ter, portanto, uma economia forte, que gera oportunidades e emprego, é essencial para tudo o resto. Aliás, a perda de competitividade da Europa, nomeadamente dos países mais industrializados, explica grande parte da degradação social e política que observamos, os conflitos crescentes que brotam um pouco por todo o lado e está na génese da iniciativa Indústria 4.0, como forma de reganhar competitividade através da inovação tecnológica.

Não há outro caminho. Os países, as empresas, as várias organizações, etc., investem em ciência e tecnologia tendo por base objetivos de conhecer melhor e explicar aquilo que nos rodeia, mas também para serem capazes de inovar e, com isso, estar à frente, chegar primeiro, saltar mais alto e ver mais longe, imaginar e ser criativo, construir soluções novas e ter sucesso. Isso significa, que o sistema científico e tecnológico nacional deveria ser, no essencial, o mais poderoso ponta-de-lança do país

É por isso para mim incompreensível que não se promovam formas alternativas de financiamento, essencialmente privadas (a economia tem de financiar o conhecimento e a inovação), que se utilizem indicadores de performance intermédios e não os que estão ligados ao impacto real, e que se promova a confusão entre geração de conhecimento e inovação, como se não fossem etapas de um ecosistema de competitividade. Ou seja, aquilo que deveria ser o nosso CR7 competitivo não cumpre bem o seu papel e ainda consome recursos públicos, por ser pesado, burocrático, carreirista e pouco adaptado às necessidades da nossa economia.

Portugal precisa de um caminho claro na Ciência e Tecnologia. Não pode viver de financiamentos essencialmente públicos e não pode estar à mercê das ideias deste e daquele ministro. Ou seja, a estratégia tem de ser clara, tem de estar focada nos objetivos de longo prazo, tem de se manter no tempo e tem de apelar à tenacidade e resiliência dos vários parceiros do sistema científico e tecnológico nacional.

Somos um país muito pequeno e é impossível que sejamos bons em tudo. Há coisas em que somos relevantes, outras em que temos potencial e podemos desenvolver competências para melhorar o desempenho e ter relevância, outras, emergentes, que podem ser estratégicas para o país, e ainda outras em que somos fracos e não seremos melhores no futuro.

Isso significa que o país tem de definir vetores estratégicos de desenvolvimento e gerir (é a palavra certa) os seus recursos em ciência, na forma como coloca os resultados ao serviço da inovação nas empresas e na forma como dissemina esse conhecimento pela sociedade (no ensino e formação avançada, na divulgação de ciência e tecnologia e na promoção de iniciativas disruptivas que motivam saltos culturais e civilizacionais).

Estive recentemente no Brasil, visitei muitas instituições de interface entre a ciência e a indústria e vi modelos que têm um enorme potencial. Modelos em que federações da indústria colocam parte dos seus recursos no financiamento de atividades de I&D, isto é, uma pequena parte dos lucros das empresas, reunidas em associações empresariais, são disponibilizados em chamadas de projetos orientados para a indústria, seguindo vetores estratégicos definidos ao nível dos vários Estados (o Brasil está dividido em Estados e existem Federações Industriais por cada Estado).

Esse modelo, com modificações de forma a que recursos privados pudessem alavancar recursos públicos, num fundo que respondesse a objetivos estratégicos nacionais, ou até regionais com coordenação nacional, deveria ser pensado para Portugal.

O país precisa de dar um salto gigantesco de competitividade e isso exige modelos de financiamento estáveis, para ter ações consequentes e permanentes, e instituições de gestão privada, mas cooperação ativa com os organismos públicos de I&D, que possam ser os elementos chave de uma nova política de desenvolvimento científico com forte impacto na economia e nas empresas.

As universidades e institutos de I&D que melhor entenderem esta missão, serão aquelas que terão uma palavra no futuro.

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