Imaginemos que o pequeno quer ser enorme, que o negro quer ficar branco, que o vinho quer brotar das maçãs, que o fogo quer romper o inverno, que o frio atormenta o verão, que julgou que o crocodilo não lhe mordia a mão, que preferia ter nascido um cão. As verdades são de cada um e por essa razão hoje se protesta mais, se exige mais, se ofende mais.
A cultura inculta pressupõe que determinados factos não têm origem, não têm um começo longínquo. Não há processos espontâneos, nem iluminações a partir do nada. Deste modo definiria “fake news” ou informações falsas intencionais a elaboração da “pós verdade”.
Este conceito foi introduzido no dicionário de Oxford em 2016 para explicar que estamos num tempo em que a realidade tem menos importância que a emoção. Um cenário, uma encenação, pode valer milhares de likes/gostos na internet sem que alguém verifique a sua legitimidade.
Os políticos arrasam os seus adversários construindo desinformação, lavando os adversários com pestilentas provocações. A sociedade da informação, dependente das audiências para o negócio, enredou-se na teia do jornalismo superficial e na força tablóide.
Infelizmente pessoas de suposto nível cultural elevado partilham milhares de mentiras e de emoções e de vídeos truncados, histórias a que faltam partes, sem o pudor da ofensa, sem o decoro da própria auto-protecção.
Amanhã podemos ser vítimas destas alarvidades. A defesa da mais ínfima das diferenças não pode criminalizar a normalidade, e a força da tolerância não constrói delitos de opinião para a maioria.
Este facto garante que o cavalo que me derruba não é criminosos – é um cavalo. Esta realidade pressupões que é mais fácil cair de motorizada que de carro, mas não devem proibir-se as motos.
Podes querer muita coisa, podes acreditar em fantasias ou nas tuas verdades, o que não podem é querer silenciar a minha versão e a minha convicção.