A Medicina, fruto da progressiva incorporação dos resultados da Ciência, surge em cada momento como mais capaz de debelar os males físicos e psíquicos dos que a ela recorrem. E agora ainda mais quando existem equipamentos hospitalares de qualidade espalhados por todo o Pais e melhores do que quando se dizia:
“Existem em Portugal, Hospitais de primeira ordem e categoria, em Lisboa e Coimbra, bem apetrechados sob todos os pontos de vista, inteiramente mantidos, dirigidos e dotados pelo Estado. Esses Hospitais têm as suas despesas pagas por verbas saídas das contribuições gerais do Estado, e constituem órgãos integrados na função da assistência pública” ( 1 ) .
De facto, o 25 de Abril trouxe melhorias substanciais na organização dos serviços públicos de Saúde, mas existem falhas introduzidas nele por inabilidade da governação e pelo aproveitamento oportunista dos que querem ganhar com a doença alheia, argumentando com qualidades que muitas vezes não têm ou aproveitando algumas idiossincrasias dos que erradamente a eles não querem recorrer.
Preferem erradamente os modernos curandeiros, gente sem ciência mas que lhes ganhou a confiança, e que lhes têm trazido complicações graves causadas por esta sua crendice. Para complicar, há gente que contesta a aplicação das vacinas, originando problemas de saúde pública enquanto outros acham que não vale a pena aplicá-las.
Agora abrem os telejornais com notícias dramáticas de reivindicações das populações, enquanto são bem menos audíveis as queixas de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde quanto à sobrecarga que são obrigados a suportar. Queixam-se deles os utentes, mas poucos destes querem saber das razões que os levam à exaustão.
Pior, queixam-se médicos e enfermeiros de que são maltratados por utentes e seus familiares. E há decisões inexplicáveis de quem governa o país pois consideram que há valores mais altos que a preservação da Saúde dos seus concidadãos. Nem sequer se fala com clareza na falta de acesso à formação especializada de muitos médicos recém-formados e cuja falta já se sente no SNS. E se vai agravar com a reforma dos médicos seniores como claramente se antevê, alarmando já as populações por eles servidas.
Não se chega a discutir a necessidade de salvar bancos que, só por terem sido bem mal geridos, precisam agora de continuadas injeções de capital que sabemos faltar para além da Saúde noutros aspetos da nossa vida coletiva.
E é essa a discussão que deve ser feita bem antes que seja tarde.
( 1 ) Proença, António Ramos – O Problema da Assistência Médica em Portugal: Situação Actual, Comentários ao Código Administrativo, Sugestões e Bases para a sua Resolução, Tipografia Semedo, Castelo Branco, 1937, pp. 50-51.