Opinião: A mãe…

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Uma mãe, com ajuda ou não de um pai, deitou ao lixo um bebé (a imagem divulgada pelo INEM é absolutamente chocante), sem nenhuma roupa que o pudesse proteger e ainda com sinais do cordão umbilical. O bebé sobreviveu porque um sem-abrigo notou uns barulhos no caixote do lixo.
(suspiro)
Este bebé-herói um dia será adulto e será um grande homem ou uma grande mulher. E eu, do fundo do coração e com lágrimas nos olhos, desejo-lhe o melhor do mundo para a sua vida, que espero seja muito longa e feliz.
Sobreviver a isto tudo e conseguir, espero, ser feliz, é a demonstração de que não estamos sós e há alguma justiça e bondade infinita na estrutura da natureza.
Este ser humano é um milagre e uma fonte de esperança.
A mãe foi encontrada e vimos imagens chocantes de um homem a tirar o bebé do caixote do lixo. E não podemos ignorar que quem salvou este bebé é, também, um sem-abrigo, isto é, outro ser humano abandonado à sua sorte. Apesar de tudo, a mãe do bebé não precisa de ser presa, insultada ou sequer apontada a dedo.
Aquilo que fez é de tal forma inimaginável, que o que devemos fazer é tirá-la da miséria humana em que vive e tentar perceber o que aconteceu com ela, como se afastou totalmente da condição de ser humano.
Todos nós temos de pensar sobre como foi possível deixar que esta miséria humana ainda exista sem que queiramos saber quando cruzamos com ela na rua. Porque nós cruzamos com ela e fingimos que não a vemos.
Temos de explicar como foi possível ter gasto mais de 20 mil milhões de euros para salvar bancos e argumentar que não há umas dezenas de milhares de euros para salvar outros seres humanos.
Temos de perceber como é possível que um bebé vá parar ao lixo, por não haver gente suficiente a preocupar-se com os outros, nem dinheiro para ajudar os outros, e, no mesmo dia, na mesma cidade, milhares de pessoas, que falavam de futuro, esgotavam em minutos camisolas que custavam 700 euros.
Temos de perceber como é possível que continuemos a alimentar com milhões a miséria do Novo Banco. Agora, em 2019, pedem mais 700 milhões ao fundo de resolução. Temos de perceber que nada tem valor se estas coisas, básicas, elementares, de solidariedade, do mínimo de humanidade, ainda existem, ainda acontecem.
Não querer saber é atirar, vezes sem conta, o bebé ao lixo. O caminho que fazemos é coletivo. Não há nenhum sucesso, nenhuma vitória, nenhum sentimento, nenhuma maravilha natural ou cultural, que faça o mínimo de sentido perante uma coisa como esta.
O bebé, o facto de ter sido salvo por um sem-abrigo, a mãe, com 22 anos, a viver na rua, provavelmente abusada e totalmente abandonada, toda esta história incrível de sobrevivência, de miséria humana, de falta de todo o tipo de valores, de redução à condição mais básica e chocante da existência, tem de nos apelar para que sejamos capazes de refletir sobre o que andamos a fazer.
Para mim, não é uma coincidência. Não pode ser. Tem de ser um muito sério aviso. Da natureza, se quiserem. De deus, se acreditarem. De uma consciência perdida, se vos for mais conveniente. Um bebé, com poucos minutos de vida e um nó tosco no cordão umbilical, foi atirado ao lixo. Sem roupa. Sem nada. E sobreviveu.
E um pobre salvou-o. A gruta era um caixote de lixo. As palhinhas, bocados de plástico. Não havia pai, nem mãe. Nem burrinho, ou vaquinha para o aquecer. Não havia uma estrela a guiar os reis. Nem prendas. Nem sorrisos. Mas tudo o que o Natal significa está ali totalmente em causa. Não ignore.

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