Diálogo entre arquivo da crise de 69 e a arte

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É a força da palavra – ou a sua ausência – a marcar a exposição “SHIU! O diálogo do silêncio” que é inaugurada hoje, às 19H00, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC). Nela são mostrados, primeira vez em 50 anos, cartazes e panfletos usados pelos estudantes durante a crise académica de 1969 guardados nos arquivos da biblioteca.

Mas há mais para ver nesta mostra em que o diálogo – ou a sua ausência – inspira obras de artistas contemporâneos.
“Tratando-se de uma exposição de arte contemporânea, queríamos que conseguisse ter uma relação mais empática com as memórias dos visitantes. Portanto, houve essa vontade de criar um discurso que conseguisse ser expandido tanto do ponto de vista do arquivo, como do ponto de vista da obra de arte, através dessa relação de diálogo entre arquivo e obras”, disse Miguel Mesquita, que, juntamente com Filipa Alfaro e Inês Teles Carvalhal, faz a curadoria da exposição.
Ainda antes de entrar na mostra, que está patente da Sala de São Pedro, ouve-se um “shiu!” – o nome de uma obra sonora de Luísa Cunha que marca a entrada no espaço.

“Sob a calçada, a praia” (sous les pavés, la plage)
Depois, no centro da sala, uma obra de Fernanda Fragateiro recorda uma das mais célebres palavras de ordem que emergiram do Maio de 1968 : “Sob a calçada, a praia” (sous les pavés, la plage), numa alusão à areia que se escondia debaixo das pedras retiradas do pavimento das ruas para erguer barricadas ou para responder à repressão policial. A representação simbólica dos sonhos de 68 e também da crise académica de 69: descobrir uma nova liberdade debaixo do peso bruto do “velho regime”.
Aliás, em toda a exposição, a equipa de curadores quis estabelecer pontes em torno de temas como o culto de personalidade, a militarização ou a construção da narrativa histórica, fazendo paralelismos entre o maio de 68 e a crise académica ou entre a Guerra Colonial e a Guerra do Vietname. E também em relação ao presente e ao futuro.

Postura crítica
face à contemporaneidade
“Queremos ter uma postura crítica em relação à contemporaneidade, àquilo que acontece ou ao que tem acontecido. Com a emergência de novos nacionalismos e novos populismos, todas estas premissas voltam a ser importantes: no fundo, há um reciclar da história que era importante analisar”, adiantou Miguel Mesquita.
Na exposição participam artistas como Ana Hatherly, Fernanda Fragateiro, Helena Almeida, Hernâni Reis Baptista ou Mané Pacheco, entre outros. Esta última vai apresentar a obra “Chuva Dourada”, construída com munições inertes, simbolizando relações de poder e de “pequenos atos de rebeldia”.
Para além do material da crise académica de 1969 disponível na Biblioteca Geral, juntam-se à exposição (que está integrada na programação convergente da bienal Anozero’19), documentos do Centro de Documentação 25 de Abril, do Museu Académico da UC, do Ephemera e do Arquivo Multimédia da RTP.

 

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