Opinião: Carrascos

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Os responsáveis do CDS devem explicações aos seus militantes pelo que aconteceu na noite eleitoral. Essas explicações até foram pedidas no último Conselho Nacional, sem qualquer intuito de julgar ou condenar. Só de perceber. A Presidente do partido disse que tinha uma ideia sobre o que se tinha passado, mas não a revelou aos militantes presentes. Os membros dos outros órgãos, responsáveis pelas escolhas assumidas pelo menos desde o último Congresso, nada explicaram. Alguns bateram no peito e assumiram as culpas. Atitude digna, mas não suficiente. É preciso perceber o que se passou para não voltar a cometer os mesmos erros, considerando que a hecatombe eleitoral não surgiu do acaso. Ninguém responsável foi ao púlpito dizer o que correu mal nas escolhas que conduziram à desastrosa consequência, como se a percepção que têm da sua própria culpa seja muito diminuta, inserida num complexo decisório colectivo, e que por isso fica mitigada a conexão entre o acto de escolher e a consequência que daí adveio na noite eleitoral. Também ninguém responsável foi dizer o que teria feito de diferente, uma palavra que permitisse perceber de viva voz o que há a fazer no futuro do CDS.
O que entretanto se passa são declarações aos jornais e redes sociais, que vão levantando o véu sobre as opções tomadas e as consequências que estão à vista de todos. Há dias, o vice-presidente eleito em Congresso e coordenador do programa eleitoral do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, escreveu no Jornal de Negócios que os partidos e respectivas ideologias não devem ser excludentes e que ninguém deve, de régua e esquadro, ditar quem pode militar onde. Esta posição programática pode eventualmente ter sido um dos problemas do CDS nos últimos anos e valeria a pena discutir se a matriz ideológica do CDS é ou não excludente. Se o dever e obrigação de quem acredita em causas é despir-se delas para que outras possam entrar ou se é de as afirmar com veemência para que outros a elas possam aderir, convencidos da sua bondade. Já outro vice-presidente do partido, Nuno Melo, vem agora dizer que está a escrever uma moção para o próximo Congresso, afirmando que não quer um CDS “marca branca”, mas sim “marca registada” que pode e deve ser, a partir da sua matriz, o elemento essencial para reorganizar todo o espaço da direita política e das forças não socialistas. Termina declarando-se um construtor e não um carrasco.
Tenho, muito honestamente, enorme apreço por ambos, mas não consigo deixar de pensar que me parece que estão em contradição nas suas afirmações, algo que nestes últimos anos em que ambos foram responsáveis quase máximos pelo partido não se revelou. Estará Nuno Melo a chamar de carrasco a Adolfo? Não posso acreditar nisso, mas também me custa a crer que Nuno Melo tenha sido vice-presidente (ainda é) de um partido “marca branca” e nada tenha dito ou feito, pois o próprio se declara um construtor (característica que não brotou agora). Não obstante, ambos podiam, deviam e tiveram a oportunidade de esclarecer isso, no que teria sido um bom debate de ideias, aquando da última reunião alargada de militantes. Talvez numa próxima.

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