Há dias um desses candidatos a chefe do governo lembrou, inovadoramente, que há uns senhores cujos julgamentos nunca se movem no sentido do trânsito em julgado, mantendo-se tudo na modorra que permite ao Povo descrente das potencialidades da Democracia, dizer que aos grandes nada lhes acontece, mas, sob o jugo de um Rei estrangeiro, escrevia-se:
“E conhecerão dos agravos dos Corregedores da nossa Corte, e do Juiz da Índia e Mina, e dos Corregedores da Cidade de Lisboa, Juiz dos Alemães, Conservadores das Universidades de Coimbra e Évora, nos casos, que não couberem em suas alçadas” ( 1 ).
Agora referindo-se com certeza também a nós, os economistas Peter Temin e David Vines, num livro publicado pela D. Quixote, quando analisavam a forma como o economista John Maynard Keynes construiu as suas frutíferas teorias, falavam na página 145 dos países da Europa do Norte. Faziam-no a propósito do medo que estes têm de emprestar dinheiro aos países da Europa do Sul.
Esqueceram-se de ver como a corrupção e a má gestão dos dinheiros públicos e privados entre nós limita a nossa capacidade de produzir e de, em consequência, pagar.
Trata-se de um medo que invade e sufoca o povo honesto, que só sabe emigrar quando as coisas dão para o torto, deixando os donos disto tudo impunes tal como é tradicional. Nem sequer viram que os Ministros das Finanças quase só servem para aumentar impostos ou, então, são ministros cativantes por só cativarem fundos públicos por serem necessários para pagar buracos na banca privada e pública, que alguns banqueiros mal-amanhados foram criando com arrogância, assumindo saberes que não tinham e escondendo comportamentos desviantes de que a imprensa fala escassamente.
Sendo a economia estudada desde o alvorecer da República em Escolas de Economia, como eram os Institutos Superiores de Comércio, que posteriormente passaram a Escolas de Economia que, com a democracia, se multiplicaram por todo o País. Somos contudo confrontados com a escassez gritante de quem diga como tudo aconteceu na nossa banca, e sempre de forma recorrente como se nada conseguíssemos aprender com os erros do passado. Explica-o a análise do que escreveram e disseram os jornais e os telejornais dos últimos anos. Com ela, chegamos à conclusão de que muitos dos que palraram sobre Economia, faziam-no para levar as gentes da nossa terra ao amargo engano em que sobrevivemos sempre bem mal.
Não admira agora que alguns economistas, que foram ministros, apareçam como símbolos emblemáticos de uma corrupção endémica que nos degrada como Povo.
( 1 ) Ordenações e Leis do Reino de Portugal recopiladas per mandado d’ El Rei D. Filipe, o Primeiro, Duodécima Edição, segundo a nona, Coimbra, 1824, Coimbra, na Imprensa da Universidade”, p. 38.