Opinião: Atingirá este a esperança média de vida actual?

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Desde criança que me lembro de ouvir falar do SNS em minha casa, da equidade e da universalidade do acesso. Ficava maravilhado com a ideia de todas as pessoas terem direito e acesso à Saúde. É, sem dúvida, uma das maiores conquistas do Portugal democrático. A oportunidade de quem está doente se tratar, sem ter que se endividar ou hipotecar o futuro familiar, independentemente da sua condição social e económica, é a enorme mais-valia do SNS. Porque todos pagamos para um “bolo comum” que permite o tratamento de todos. Contudo, o sistema está em risco, em queda livre e desamparada. Sem solução à vista, apesar das inúmeras tentativas numéricas dos burocratas do Excel ao dizer que “este ano fizeram-se mais X cirurgias, X consultas, X etc”.
Temos assistido a uma degradação insuportável. De que serve ser gratuito se não responde às necessidades da população? Se demora anos a cumprir os seus objectivos? Por exemplo, como pode um doente de 42 anos ficar seis meses à espera de uma consulta, mais seis meses à espera de um exame (ressonância magnética), e ainda mais seis meses à espera da tão necessária cirurgia à coluna? Isto, correndo tudo bem! Estaria provavelmente de baixa durante mais de um ano, com todas as suas consequências (sofrimento pessoal, instabilidade familiar e financeira, despesa para a segurança social, etc). Atingimos uma fase de degradação tal que mesmo os habitualmente mais salvaguardados e, por isso, últimos a sofrer (saúde materno-infantil) já ultrapassaram todos os limites aceitáveis, com consequências graves. Grávidas transferidas do Algarve, maternidades em Lisboa (da capital, não de uma região periférica e menos favorecida) que não conseguem assegurar as escalas de urgência. Temos tido notícias de doentes que morrem a aguardar cirurgias programadas. Será que quem tem responsabilidades governativas não coloca a mão na consciência? Não se dá conta da gravidade da situação? Ou dá e ignora?
A dimensão do problema tem evoluído. O sistema não consegue reter os seus profissionais, está a perder atractividade. Está a perder o “know how” acumulado durante muitos anos, o “expertise” de colegas mais velhos e experientes que tratam doentes com patologia altamente complexa e que não só salvam vidas mas também ensinam os mais novos, assegurando que mais vidas serão salvas no futuro. Esta perda é irreparável e tem consequências imprevisíveis. Urge parar esta política (transversal a vários governos!) e inverter o ciclo. Temos todos que travar esta situação!
Reinventar o sistema tem que ser um desígnio nacional. Reinventar passa por valorizar a qualidade, o mérito e a vontade de trabalhar. Valorizar financeiramente, é certo, mas, ao mesmo tempo e muito mais importante, valorizar profissionalmente os recursos humanos. Muitos estão “asfixiados” há anos pelo “monstro” que se apoderou do SNS, com toda a burocracia e inércia inerentes a um serviço público pesado na sua enorme estrutura. Reinventar é reter os melhores, mesmo que tenha que se pagar mais por isso! São os melhores? Têm que ficar! É um investimento com retorno certo. Reinventar passa também pelo controlo de qualidade do serviço prestado, com a devida responsabilização dos prestadores. É essencial avaliar, medir, identificar os erros e melhorar. Reinventar é munir as áreas do interior e mais despovoadas. Como? Com verdadeiros incentivos financeiros, não apenas durante 2 ou 3 anos, de forma aleatória e pouco clara na sua atribuição, mas antes de forma sustentada e a longo prazo.
Todos desejamos uma longa e frutuosa vida ao SNS. Se queremos que atinga a esperança média de vida actual (outra conquista do próprio!), com a adequada qualidade de vida, temos (todos!) de deitar mãos à obra rapidamente, sob pena de nada sobrar para as gerações vindouras.

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