Histórias de Tábua dão origem a peça que circula pelas aldeias do concelho

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A jovem companhia Teatro Perro, sediada em Tábua, andou a recolher histórias em torno de cicatrizes físicas e psicológicas das pessoas da terra e transformou-as num espetáculo que vai circular pelo concelho até novembro.

O espetáculo “Cicare” não pretende assumir-se como um retrato de Tábua, antes uma “cartografia emocional despudorada” daquela terra, a partir de cerca de 20 histórias em torno de cicatrizes, que falam de relações, de religião, do interior, da ditadura, da guerra colonial, da doença ou da solidão.

“Histórias do interior, daquilo que somos feitos, da terra onde vivemos. Baseado em depoimentos reais, o espectáculo apresenta um mundo ficcional inspirado no nosso território, traçando um mapa que, não sendo verdade, é parte dela”, refere a sinopse da peça.

A peça estreou em abril e volta a circular entre 21 de setembro e 10 de novembro, estando previsto passar por dez localidades do concelho, sempre com entrada gratuita.

De acordo com a diretora artística da Teatro Perro, Gi da Conceição, o espetáculo surgiu após a companhia ter criado uma oficina de teatro para adultos, sendo os oito atores em palco pessoas que frequentaram esse curso, com idades entre os 18 e os 56 anos, tendo ocupações profissionais que nada têm a ver com as artes, havendo um eletricista, uma administrativa de um centro de saúde e um funcionário municipal.

A peça partiu de uma recolha que Gi da Gonceição fez junto de habitantes do concelho, perguntando-lhes sobre as suas cicatrizes, físicas ou outras, tendo chegado ao final do processo com mais de 70 páginas de histórias, contou.

No espetáculo, as histórias surgem como uma espécie de microcontos agrupados em blocos temáticos, numa peça com uma cenografia bastante reduzida – para se adaptar aos diferentes espaços das localidades -, que se limita a uns holofotes e a baldes.

Num projeto onde a proximidade está muito vincada, no final do espetáculo há quem se reveja numa história ou pense que uma das “cicatrizes” é de uma pessoa conhecida, notou.

“Temos tido sempre casa cheia”, afirmou à agência Lusa Gi da Conceição, salientando que o espetáculo passa por muitas localidades onde o teatro muitas vezes não chega e é comum encontrar pessoas que lhe dizem que foram ao teatro pela primeira vez na sua vida à boleia da peça.

“É muito bom para nós levar a cultura onde muitas vezes não há acesso a ela”, vincou.

Para Gi da Conceição, é “muito difícil” ter uma companhia de teatro fora dos grandes centros urbanos e ainda não é possível trabalhar a tempo inteiro para o projeto, mas sublinha que têm sentido muito apoio quer por parte da Câmara de Tábua, quer por parte de várias pessoas do concelho para continuar com o projeto.

A companhia Teatro Perro está integrada na associação cultural Gambiarra, criada em 2017.

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