No dia 25 de julho aquando da reunião da Câmara Municipal de Lisboa, a proposta n.º 585/2019, subscrita pelo Sr. Vereador Manuel Grilo, eleito pelo Bloco de Esquerda (substituiu Robles), e destinada a atribuir o nome de Marielle Franco a uma rua da capital portuguesa, foi aprovada por unanimidade. Dos fundamentos da proposta consta que a activista de extrema-esquerda (que obviamente não tem culpa nenhuma neste acto) “foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, nas eleições de 2016, com mais de 46 mil votos na sua primeira disputa eleitoral”.
Que o Bloco de Esquerda queira homenagear militantes de partidos que dizem que lutam contra o imperialismo agressor dos Estados Unidos da América, que querem a ruptura com o FMI, declaram não querer pagar a dívida externa do Brasil, nacionalizar as empresas privatizadas e expropriar os grandes grupos capitalistas, eu até entendo.
Também já o disseram aqui em Portugal, antes de fazerem parte da geringonça. O que é absolutamente incompreensível é a unanimidade em torno desta proposta.
Não se conhece nenhuma ligação relevante de Marielle Franco a Portugal, nem especificamente à capital lisboeta. O que se sabe é que foi morta em Março de 2018, numa acção que o Bloco de Esquerda apelidou de execução, tendo prometido transformar o seu luto em luta. Para além disso, diz o Bloco de Esquerda que ela se destacou “na luta pelos direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e dos moradores de favelas e periferias, e na denúncia da violência policial.”
Só assim de cabeça, nestes últimos anos, recordo-me de vários Prémios Nobel da Paz, sem qualquer ligação a Portugal conhecida, que não têm nome atribuído a nenhuma rua lisboeta. Em 2014, foi a vez de Malala Yousafzai, a pessoa mais nova alguma vez a ser laureada com um prémio Nobel. É uma activista paquistanesa, com dimensão internacional, conhecida principalmente pela defesa dos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação na sua região, no nordeste do Paquistão, onde os talibãs locais impedem as jovens de frequentar a escola. E que dizer de Nadia Murad, prémio Sakharov em 2016, activista pelos direitos humanos yazidi, que desde 2016 é a primeira
Embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico Humano das Nações Unidas? Dizer que em 2018 recebeu o prémio Nobel da Paz pelos seus esforços para pôr fim ao uso da violência sexual como uma arma de guerra.
Há muitos outros nomes, incluindo alguns portugueses que já foram propostos e rejeitados, e cuja diferença é não serem políticos de extrema-esquerda. A instrumentalização política da morte de Marielle é um facto indesmentível e a unanimidade da votação em torno desta proposta é uma vergonha. Vítimas há muitas, mas não é necessariamente por isso que devem ser lembradas. Também todas as mortes prematuras são lamentáveis, mas uma homenagem não é um voto de pesar!