Opinião: Coração de papelão

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No passado sábado, enquanto lia a entrevista de António Costa ao Expresso, quase senti compaixão pela Catarina Martins (e logo eu que nunca morri de amores pela cachopa). Então um sujeito que passou os últimos anos a enaltecer as maravilhas daquele relacionamento de poliamor que mantinha com a moça e com o Jerónimo, agora, em época de renovação de votos, dá-lhe assim um valentíssimo chuto no traseiro (à vista de todos para que não restem dúvidas sobre as suas intenções) e destrata-a com um rol de enxovalhos, de imatura a exibicionista, ao mesmo tempo que pisca o olho ao rival da Soeiro Pereira Gomes, alvoroçado pela sua maturidade e confiabilidade?

Ora, a mim, que entretanto soubera que José Cid fora agraciado pela Academia Latina com um Grammy “por excelência musical” (o mesmo que já recebera Carlos do Carmo em 2014 ), não me sai da cabeça uma letra do compositor da Chamusca que bem podia ser uma canção de amor da Catarina para o nosso Primeiro-Ministro a quem apropriadamente chamaria “Coração de Papelão”:

“Recortaste a luz da lua/ E colaste um papelão/ Escreveste assim “Sou tua”/ E eu fiquei nessa ilusão/ Encontrei-te hoje na rua/ E nem me deste atenção/ Afinal qual é a tua/ Coração de papelão?”

Imagino a moçoila por ali, chorona, a lembrar promessas antigas do noivo que dizia ter a Geringonça na cabeça e no coração, cantando baixinho: “Então chorei/ E até pensei/ Amar assim para quê?/ Sempre quis/ Namorar/ Com você”… pobre mulher abandonada por um sem-vergonha que, depois de um noivado publicitado nas melhores revistas cor-de-rosa (como convinha, no caso), agora se pavoneia ao redor de nova conquista.

Para já, para já, a reacção da catraia foi bastante contida para não deitar tudo a perder (nestas andanças o valor do dote facilmente levará o despeito e os desagravos) na esperança de que ele ainda volte, saudoso do amparo dos últimos quatro anos, e até, quem sabe, disposto a concretizar o enlace prometido, por forma a evitar desagradáveis rixas entre gente que se diz aparentada…

Em suma, é preciso esperar pelo fim da ‘silly season’ para ver no que isto vai dar: um casório à moda antiga, apadrinhado pelo Pedro Nuno Santos com pompa e circunstância (ao som de “Um grande, grande amor”), ou o habitual ‘lavar-de-roupa-suja’ que se segue a qualquer zanga de comadres?

Por mim, prescindiria do fervor da bulha por uma boa festarola animada pelas baladas do Cid. Venham a Lenda d’El Rei Dom Sebastião, a Neve (que cai) em Nova York, Uma Balalaika, a Portuguesa Bonita, e até as Favas com Chouriço ou as famosas Bananas de que o Macaco tanto gostava.

Honremos-lhe a autenticidade e a saloiice tão exclusivamente portuguesa, algures entre um invulgar descaramento e uma inesperada ingenuidade, que em tempos idos lhe deram o arrojo necessário para se deixar fotografar todo nu, promovendo o disco de ouro com o qual tapava as suas partes mais íntimas.

José Cid que, aos 77 anos, ainda reuniu uma dezena de milhar de pessoas em cada um dos 20 concertos que realizou só neste mês de Agosto, disse, em entrevista a este nosso jornal, que gostaria que Coimbra soubesse que ele canta bem.

Pois bem, Zé, as suas músicas fazem parte das minhas playlists, cantarolo-as e danço-as até. Escrevo, aliás, estas linhas embalada por uns quantos versos seus que me guiam a mão:
“Há muito, muito tempo/ Eras tu uma criança/ Que brincava num baloiço/ E ao pião… Pelo tempo fora/ Continuámos unidos/ E cantámos tantas vezes/ A canção… Vem viver a vida amor/ Que o tempo que passou/ Não volta, não”; ou
“Ontem eras a menina mais alegre e/ Mais bonita que eu já conheci/ Laçarote no cabelo e um fato à/ Marujo feito de cetim/ Fazias-me as contas de multiplicar/ E no fim das contas/ Íamos brincar às casinhas, aos cowboys/ Aos polícias e ladrões/ Ontem, hoje e amanhã”; ou ainda o célebre
“Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye/Amore, amour, meine liebe, love of my life”, que me lembra de novo a história do Costa e da Catarina…
– Sim, Zé, eu acho que o Zé canta muito bem!

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