Fiquei genuinamente muito contente quando li a notícia do possível investimento da Olympus em Coimbra. Aliás, qualquer investimento em Coimbra me deixa contente, pois a cidade precisa urgentemente de investimento estruturante que tenha como objetivo criar valor, atividade económica e emprego.
No caso da Olympus, estamos a falar de uma instalação para reparação de equipamentos, especialmente endoscópios, que ocupará uma área de cerca de 25,500 metros quadrados no iParque. A referida empresa tecnológica anunciou no seu sítio oficial que pretende iniciar obras ainda este ano.
É uma excelente notícia sobre um investimento que pretende aumentar significativamente, nos próximos 5 anos, os atuais 137 postos de trabalho da Olympus em Coimbra, apesar de a empresa não se comprometer com um número definitivo (ou aproximado).
Como sabem estive na génese do iParque e fui responsável pelo seu arranque definitivo, pelo planeamento e construção e todas as infraestruturas que lá existem, bem como de todos os edifícios e de quase todos os contratos de venda de lotes. Lancei e concluí os concursos de infraestruturas, tendo terminado a obra no prazo acordado e dentro do orçamento (aliás, ligeiramente abaixo, o que deve ser recorde nacional).
Lancei e concluí os concursos do edifício Leonardo da Vinci, que hoje serve como business center, local de eventos e localização de empresas. Lancei ainda e concluí os projetos de arquitetura e infraestruturas do edifício Nicola Tesla, tendo também promovido o lançamento do respetivo concurso público de construção. Infelizmente, porque, entretanto, saí da administração do iParque para assumir funções como Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), o Tesla nunca avançou e o respetivo financiamento que tinha (QREN, incluído no projeto INOVC) não foi executado.
Tesla era, recordo, o coração do iParque, pois, no planeamento feito, esse parque deveria ter uma estratégia mista de atração e incubação, sendo essencial uma aceleradora de empresas que funcionasse como porta de entrada do parque. Não há nada que se faça com sucesso sem uma estratégia clara, sendo necessário planear os degraus que temos de percorrer, dadas as circunstâncias que enfrentamos.
Na área empresarial, em Coimbra em especial, dada a menor atratividade relativa da cidade e região, é necessário atrair empresas que possam ser âncora de desenvolvimento. Isso implica dinamismo para que essas âncoras possam antever na região um local de desenvolvimento competitivo. O Tesla era essencial nessa estratégia. Infelizmente, por falta de visão, não se realizou, apesar de os responsáveis do iParque (a câmara municipal) falarem sistematicamente no seu nome.
Na semana que agora termina, li um artigo de opinião escrito pelo atual Presidente do Conselho de Administração do iParque (PCA do iParque) publicado no Diário As Beiras. Fiquei triste com o que li, pois ficou clara a total desorientação estratégica, um enorme desconhecimento da realidade do iParque e dos desafios que se colocam a Coimbra. Deixo só quatro notas sobre esse artigo:
1 ) O PCA do iParque declarava-se “inchado até não respirar” (sic) com o facto de ter lido “nas Beiras” (SIC) sobre o contrato com a Olympus. Para além de não perceber como é que soube pelas Beiras, quando deveria ter sido parte ativa no negócio, recomendo que esse facto, relevante, de um investimento importante, dê antes origem a responsabilidade no apoio e na organização para que a Olympus realize, de facto, esse investimento e, ao contrário da Innovnano (que ocupava 3 mil metros quadrados no iParque), não decida ir embora. Os investimentos não são anúncios. São realização e materialização de planos e é nessa tarefa que todos, incluindo o PCA do iParque, devemos estar apostados;
2 ) Referiu-se o PCA do iParque, numa tentativa de informar quem o lia sobre os planos para aquele espaço, ao edifício Tesla e sobre o investimento (várias dezenas de milhares de euros) que se fez, por minha iniciativa, nos projetos de arquitetura e de engenharia, bem como para a necessidade de o concretizar. Esqueceu-se foi de dizer que a venda à Olympus é de dois lotes, um dos quais é o lote do Tesla. Isto é, a venda à Olympus inviabiliza parte dos projetos já realizado e pagos, pois foram feitos para um lote que deixa de estar disponível. Não sabia disso o PCA do iParque?
3 ) Referiu-se ainda o PCA do iParque aos cerca de 30 hectares que estão planeados para uma área habitacional. Esse espaço foi incluído no planeamento inicial porque sempre pensei que estas iniciativas se deviam pagar a si próprias, isto é, deveriam arrancar com investimento público, mas deveriam gerar os recursos necessários para os devolver. Essa área habitacional tinha esse objetivo, criando um modelo de parque com área habitacional que muito beneficiaria o conceito do parque. E registo, com agrado, que o PCA do iParque o reconheça. O que não percebo é a contradição com o Presidente da Câmara de Coimbra. Na verdade, numa recente sessão da Assembleia Municipal de Coimbra ( 28 de março), o Presidente da Câmara referiu-se a essa zona habitacional como um bairro operário típico do início do século XX, o que não se adequava ao tipo de parque de ciência e tecnologia que o iParque pretendia ser. O PCA do iParque e o Presidente da Câmara de Coimbra não falam entre si? Comunicam através do Diário As Beiras?
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) Referiu-se ainda o PCA do iParque ao investimento da SANFIL, como se fosse algo de novo. Esse foi um contrato que eu assinei, em 2010, e que ainda não se concretizou.
Tudo isto me deixa muito preocupado, pois, em locais que arrancaram bem mais tarde do que Coimbra, como por exemplo Aveiro (ver PCI de Aveiro) a dinâmica é outra e a relação entre a câmara e a administração do parque é muito mais presente, efetiva, coordenada, comprometida e eficaz.