Há dias, descobri num arquivo municipal o cadastro das suas gentes em 1937, que então se dividiam entre pobres, indigentes e os outros. Era neste último setor que entravam os senhores da terra, que viviam explorando pobres e os quase remediados, que só o foram até emigrarem. Mas não era só aí que havia essa classificação. Acontecia também na Guarda, onde li:
“Presente um ofício em que os Hospitais da Universidade de Coimbra solicitam guia de responsabilidade pelo internamento de José Martins Carrainho, que ali deu entrada, por motivo de urgência: Em face do inquérito assistencial respetivo, foi deliberado emitir a guia de responsabilidade pedida, classificando o doente no escalão B” ( 1 ).
Agora, como resultado feliz do 25 de Abril, temos um Serviço Nacional de Saúde, aonde pobres, ricos e os assim-assim, ou seja todos temos acesso aos cuidados de Saúde de forma universal.
Só temos de pagar “taxas moderadoras” da nossa vontade de ser gente saudável.
Pensávamos ainda há pouco que íamos finalmente ficar livres delas, mas aconteceu que “segundo as contas da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), a medida deve custar 140 milhões de euros aos cofres do Estado. Terá sido este um dos sinais de alerta para o PS. “Se as contas, que são difíceis de fazer sobretudo por causa dos meios complementares de diagnóstico, forem essas, têm um grande impacto”, reconhece ao Observador uma fonte socialista bem informada sobre o processo negocial” (in https://observador.pt/2019/06/26/taxas-moderadoras, acesso em 29 de junho de 2019 ).
E assim a extinção das taxas moderadoras ficou adiada para o próximo ano ou para depois.
Tudo acontece por os ricos de sempre não poderem ficar pobres, enquanto todos os outros têm de pagar os custos da saúde e os demais custos sociais, servindo os impostos, que pagam, para cobrir a insensata incompetência dos banqueiros, tanto dos feitos à pressa nas máquinas partidárias, como dos que herdaram estes cargos como se fossem títulos de nobreza…falida e perdulária.
Entretanto, como resultado de sucessivas alterações legislativas, foram-se agravando as condições de vida e de trabalho de gente que até tinha um nível razoável de vida, ficando no fim mais pobres ou até mesmo pobres. E tudo foi feito para tornar sustentável um capitalismo que faz abandonar os campos e fechar lojas e fábricas, e até consegue baixar os juros dos dinheiros dos que ainda conseguem poupar a quase zero.
Outros, foram desapossados delas através da reinvenção dos papéis comerciais, algo que em 1890 eram denominados por papéis de crédito. E assim muitos ficaram mais pobres, enquanto se faziam umas escassas dezenas de ricos.
( 1 ) Arquivo Municipal da Câmara Municipal da Guarda, Ata da Reunião Ordinária da Câmara Municipal do Concelho da Guarda de 24 de Janeiro de 1956, Livro de Atas iniciado em 12-7-1955 e terminado em 12-7-1956, folha 115 verso.