Opinião: Do castelo de Ursula ao palácio de Christine

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A eleição de Ursula von der Leyen para presidente da Comissão Europeia (CE), e a nomeação de Christine Lagarde para presidir ao Banco Central Europeu (BCE), é mais do que a prova de que as Mulheres já assumiram o papel de relevância política que desde sempre deviam ter tido, mas que sociedades anquilosadas por milénios de domínio machista, lhes negaram enquanto puderam. E ainda bem que haverá paridade de género no colégio de comissários europeus, por abrir novas fronteiras de esperança, no que respeita ao futuro próximo da União Europeia (UE).

O poder da CE e do BCE é imenso, e será cada vez mais importante para a vida dos povos que se uniram em torno de estruturas políticas que visam assegurar a paz, de forma duradoura, num continente dilacerado ao longo da História por guerras infindáveis, tendo, no século XX, duas delas alastrado ao Mundo. Entre as causas de conflitos armados, está a usurpação de riquezas, e haver desigualdades. Daí que as políticas sociais europeias se entrelacem com as económicas, para, ao atenuar desigualdades, proporcionarem um maior bem-estar a todas as suas populações.

Superar problemas antigos, implicará maior pragmatismo, perseverança e determinação do que tem havido na UE, que ainda evidencia sinais da crise que a assolou a partir da entrada em vigor do euro, e que se agudizou com os efeitos devastadores da crise do “sub-prime” que abalou os EUA, e daí alastrou ao globo. Pelo que a recuperação da economia europeia é fulcral. Mas os pilares do Mercado Interno, tal como consubstanciados na livre circulação de pessoas, capitais, mercadorias e serviços, têm mostrado que nem todos os Estados-Membros (E-M) estavam, nem estão, preparados para competir com as mesmas armas na UE, e para enfrentar o mundo global.

Se a manutenção da UE não está garantida (bastará atender ao “Brexit”), as elevadíssimas taxas de abstenção para as eleições europeias têm evidenciado o distanciamento dos europeus quanto às suas instituições. Ora, como a UE trabalha para aproximar os povos europeus em torno de temas que melhoram a qualidade de vida humana, é difícil perceber o desinteresse que existe, e que persiste. Oxalá aquelas duas mulheres tenham uma visão tão humanizada, que torne a causa europeia mais apelativa para populações muito diversas. Mas, para a UE se tornar mais atrativa para todos, o eixo franco-germânico, que é o de Ursula e Christine, terá de apoiar de forma mais incisiva as economias de vários E-M que têm fragilidades estruturais que são agudizadas pela livre circulação de pessoas e de capitais.

Pelo que, se a construção da UE é obra infinda, a convergência das economias não pode esperar que E-M pequenos, e com atrasos significativos, se aproximem dos mais desenvolvidos, se não forem muito mais apoiados do que têm sido.
Para acontecer, quem possuir maior riqueza, e tiver excedentes económicos, deveria contribuir para o maior crescimento de todos. Mas, no seio da UE, há uma economia pujante, a de Ursula, algumas equilibradas, como a de Christine, e outras há, como a nossa, que desde sempre estão tão periclitantes, que o esforço a desenvolver será titânico, e carecerá de solidariedade a rodos. O que colocará à prova a capacidade política e técnica de quem presidir à CE, que supervisiona e enquadra a ação dos E-M, e ao BCE, que define e executa a política económica e monetária da Zona Euro, atuando em estreita ligação com os Bancos Centrais de todos os E-M desta União.

O futuro da UE dependerá da vontade de todos, incluindo os 68,7 % que não votaram em maio. Uma sociedade evoluída, composta por mais de 500 milhões de pessoas de 28 nacionalidades, não devia ter sido plebiscitada por menos de um em cada três europeus!

A UE é o bloco político mais democrático que há, e as questões que ameaçam o Mundo precisam de uma UE mais forte, e muito coesa. Há desafios a vencer, para Ursula fortalecer o castelo europeu, mas mantendo-o aberto, e para Christine abrir novas janelas no palácio que irá gerir, para diminuir desigualdades.

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