Se na minha terra há muitos assuntos que não têm corrido como deviam, há um que nem anda nem desanda, apesar das incontáveis promessas políticas e das inúmeras declarações solenes de entidades oficiais. É o caso do prometido metro, que agora dizem será “metrobus”, que mais não é que autocarro elétrico, e que “talvez um dia” substitua as arcaicas automotoras do Ramal da Lousã, cujos carris foram arrancados há mais de onze anos, sem o PS ter garantido que a obra se faria, e gastando rios de dinheiro em incontáveis estudos e em alugueres de poluentes “autobus”.
Mas há já alguns dias foi apresentado o projeto do tal “metrobus”, descrito como “a” maravilha de transporte coletivo, tendo a Câmara de Coimbra aprovado o seu traçado urbano, que servirá o HUC, Pediátrico e a Estação da CP de Coimbra B, suprimindo-se a de Coimbra A. O que me levou a calcorrear uma parte da cidade que ladeia o rio Mondego, desde o antigo apeadeiro do Parque Verde, onde as obras das “docas” pararam há muito, e de onde se vê “aquela antiga e arruinada urbanização fantasma”, até à ligação ferroviária “à linha do Norte”. Foi quando, frente ao ainda airoso Hotel Astória, naquele “arrojado e arejado terminal” dos SMTUC e operadores privados que servem a região, vi gente abrigada, como podia, de um vento agreste, destoante de um calendário tão ameaçado pelas alterações climáticas e pelo aquecimento global, que o atual Governo afirmou que iria descarbonizar a economia nacional até 2050. Quem me dera poder ver tal milagre do partido da rosa, que relegará para segundo plano o mais velho milagre das rosas!
E foi dali que vi a obsoleta estação Coimbra A, que encerrará com o “metrobus”, e que, ao notar o intenso movimento na Av. Navarro, pensei em a prolongar pelo “canal da atual linha férrea”, destruindo um arremedo de “gare do oriente”, quase no extremo ocidental da zona Centro, para criar uma larga e longa Av. Marginal, que cruze com outra que indo ao lado do velho Grémio da Lavoura, que merece ser recuperado, chegue à acanhada Av. Central. Se um dia esta ideia vier a ter projeto, talvez os saudosistas de sempre não se oponham ao bota-abaixo de “Coimbra A”, mas se assim não for, há sempre a possibilidade de fazer um “furado” que desemboque em novo jardim, a plantar à beira-rio. Como tantos “furados” que certo Jardim fez, no meio do Atlântico.
Prossegui depois até “Coimbra B” por amplos terrenos desocupados e outros com armazéns e oficinas desconchavadas, a pedirem camartelo. Mas as áreas são tão expressivas que ao longo da tão bem fantasiada como mal descrita Av. Marginal, darão para “quase tudo”. Desde mansões sumptuosas a apartamentos de renda condicionada para realojar moradores da Baixa e Baixinha. De centros de lazer e de restauração a amplas zonas ajardinadas e a espaçosos parques de estacionamento. Para instalar indústrias 4.0 com tecnologias 5G, e as mais modernas atividades de serviços não poluentes ou de pouca carbonização, a belíssimos hotéis. E para tudo o mais que se quiser sonhar… Para que, “tudo junto”, possa vir a morar, tão perto do coração da cidade, e de um Mondego encantado, gente capaz de reanimar o centro da terra, e os “negócios de sempre”… A propósito, num burgo com departamento universitário de Arquitetura, se não houver, deveria haver concurso anual de ideias com o tema “Renovação”. Voltando ao meu giro, não vi obras no paredão do rio, no que parece a triste sina de Coimbra, sempre à espera que “quase tudo” acabe em próximos mandatos. A não ser que, para reabrir um exíguo aeródromo sito onde até 2021 se construiria o aeroporto internacional (ainda acredita?!), modestas obras de reabilitação impeçam cumprir promessas grandiosas. A dois anos de eleições autárquicas, para mudar Coimbra, talvez anúncios do tipo “Procura-se Candidato(a) para impulsionar cidade média, concluir concursos e obras com celeridade, e sem recurso a ajustes diretos”, estimulem “heróis(ínas)” que as queiram disputar contra os que as ganharam quase sempre, e quem nunca as perderá, haja o que houver!