Caderno Emigrante: Precariedade laboral e reconhecimento levam a aventura das arábias

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FOTO DR

As razões de emigrar são fáceis de explicar e comuns a tantos outros portugueses que optam por procurar no estrangeiro melhores condições de vida.

Segundo Filipe Carvalho, o principal motivo para ir para a Arábia Saudita “foi claramente a precariedade em que se encontram a maior parte dos empregos em Portugal”, incluindo o seu.

Licenciado em Ciências do Desporto, com uma pós-graduação em personal training, trabalhou três anos por cá “sempre a recibos verdes, e o que isso significa, para além de facilitar a exploração, quase esclavagista, dos trabalhadores, por parte de empresas, é que quanto maior o recibo que passava, maiores também os descontos a que ficava sujeito”. Ora isso, continua, “aliado ao meu descontentamento pela situação em si, fez-me começar a pensar noutra opção”.

A busca de reconhecimento profissional e pessoal foi outro dos motivos que o levaram a Riade: “Atualmente, toda a gente é personal trainer ou coach. Toda a gente tem uma formação de fim de semana ou de alguns meses, toda a gente com uma câmara e uma rede social já é especialista em assuntos de ginásio.

Toda a gente quer opinar sobre questões que não fazem a mínima ideia de como funcionam”. “A minha profissão está descredibilizada em Portugal”, diz Filipe Carvalho. Por causa disso, “as pessoas não nos dão o devido valor e isso quase me levou a uma depressão profunda. Portanto a única possibilidade, para mim, era mudar”. E fê-lo.

Na Arábia Saudita, Filipe Carvalho é treinador pessoal e de aulas de grupo, nomeadamente nas especialidades de bootcamp e crossfit, mas também é avaliador físico.

Satisfeito pela decisão de emigrar, Filipe Carvalho adianta que as condições de trabalho encontradas “são ótimas. Não só são melhores que em Portugal, como há margem de progressão e, quando o nosso rendimento triplica ou quadruplica, só podemos ficar contentes. E para além disso, adeus recibos verdes!”.

Quatro meses no estrangeiro

Há quatro meses em Riade, o jovem personal trainer diz que estes primeiros tempos na Arábia Saudita “têm sido excelentes”. De acordo com Filipe Carvalho, “a adaptação foi muito fácil e as pessoas, até agora, que tenho encontrado no meu trabalho, têm tido uma amabilidade excecional. Sinto-me em casa desde a primeira semana”, garante.

O conimbricense sublinha que “ainda existem, no ocidente, muitos preconceitos acerca desta parte do mundo. O que costumo dizer é: experimenta e depois faz o teu juízo de valor”.

É claro que a cultura é diferente, diz Filipe que, no início, estranhou “ver as lojas e os supermercados fecharem porque estava na hora da reza”. No entanto, já se habituou e, “depois de umas semanas, já nem nota”.

Uma das coisas que o personal trainer sente falta é, porém, “o convívio social que tinha em Portugal. Fazem-me falta os encontros de fim de semana e beber uns copos com o pessoal”. No entanto, diz, “com o tempo, aprende-se a lidar com isso e arranja-se maneiras de relaxar e de libertar o stresse”.

Diferenças

Filipe Carvalho revela que a principal diferença entre Portugal e Arábia Saudita “é sem dúvida a cultura e religião. Os costumes são muito diferentes dos nossos e o relacionamento entre homens e mulheres também não é o mesmo, mas é uma questão de adaptação”. Porém, destaca, “é um povo que respeita imenso outras convicções”.

Desde que chegou a Riade, o conimbricense foi “muito bem recebido”. “Tinha o meu general manager à espera no aeroporto e levou-me ao hotel, onde fiquei ainda um mês até me arranjarem casa”, adianta.

Aliás, lembra, “antes de me levar ao hotel, fomos a uma festa típica saudita, onde tive a oportunidade de conhecer um pouco dos costumes deles. Como disse anteriormente, desde a primeira semana que me sinto em casa e toda a gente tem sido amável e prestável desde o primeiro dia”.

A curta estada na capital saudita ainda não permitiu grandes visitas turísticas, pelo que Filipe Carvalho ainda só conhece a cidade onde vive.

No entanto, espera em breve conhecer melhor o país, até porque a intenção de ficar dois anos fora de Portugal pode agora redundar num maior tempo de emigração. “Sinto-me bem aqui profissionalmente. É claro que custa estar longe dos meus, mas temos de fazer alguns sacrifícios em busca de uma melhor qualidade de vida”.

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