Saiu de Coimbra há seis anos e, nos últimos três, resolveu abraçar a aventura da emigração. Hoje, com 29 anos, o “coimbrinha” Bernardo Silva é um dos muitos portugueses emigrados em Bruxelas, onde tem acumulado experiências e reforçado o seu já vasto currículo profissional, ao mesmo tempo que apresenta o nome de Coimbra a novos olhos e sensibilidades.
Foi em setembro de 2013, já com o mestrado em Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, que decidiu fugir do ninho e partir para a capital. O desejo de seguir uma carreira profissional na área das Finanças e a ambição de se envolver entre a “nata” do setor levaram-no a fazer as malas com Lisboa como destino.
Na cidade das Sete Colinas, teve a oportunidade de viver, pela primeira vez, num verdadeiro centro cosmopolita e começar a construir um percurso profissional “mais sólido”. “Entendi que conseguiria melhor alcançar estes objetivos em Lisboa”, conta.
Um estágio de verão no Departamento de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal permitiu-lhe fixar-se no setor e, posteriormente, abriu-lhe as portas para dois anos em assessoria financeira na KPMG. O “novo desafio”, destaca, trouxe-lhe uma “enorme capacidade de trabalho”, adquirida num “ambiente de grande pressão”, em que a exigência por resultados era constante.
Com o tempo, Lisboa começou… a encolher. A vontade de conhecer mais mundo, “de trabalhar em instituições de interesse público, de preferência com responsabilidades na elaboração das políticas económicas”, empurraram Bernardo para a sua primeira etapa internacional. Mudou-se, então, para Frankfurt, cidade alemã onde mora o Banco Central Europeu, que viria a ser a sua “casa” ao longo de um ano e meio.
Contudo, o impulso nómada, que caracterizara o seu percurso até então, teimava em não sossegar.
Com 27 anos, o jovem resolveu trocar a geada alemã pelo frio belga e montou a sua “tenda” em Bruxelas. Na capital da Bélgica, foi recrutado para o Single Resolution Board, a autoridade central de resolução para os maiores bancos europeus da União Bancária, como um dos especialistas responsáveis por assegurar o cumprimento da resolução de bancos em risco ou situação de insolvência sem que fosse afetada a estabilidade sistémica e a situação financeira dos países da Zona Euro onde estes bancos operam. Ali, Bernardo manteve-se no convívio dos “grandes”, assumindo pastas de estrutural relevância e absoluta confidencialidade.
“Na verdade, é extremamente recompensador trabalhar nestas áreas de competência supra nacional. Sentir que podemos contribuir para um sistema financeiro mais sólido e melhor estruturado, apto a apoiar um crescimento sustentado das economias reais da Zona Euro e a prosperidade dos seus cidadãos, é bastante motivador”, relata.
Assim, no epicentro da elite financeira, pelas salas, restaurantes e halls europeus onde são decididas matérias fundamentais do universo económico à escala global, lá anda a velhinha Coimbra, personificada no jovem Bernardo Silva.
Já no campo pessoal, diz-se muito feliz em Bruxelas, “uma das cidades mais cosmopolitas do mundo” que beneficia de “um ambiente internacional e multicultural”. “O facto de ser a sede de várias instituições europeias e internacionais e representações diplomáticas faz com que a cidade tenha uma grande procura e oferta de eventos culturais e espaços de confraternização. As próprias empresas estimulam esse equilíbrio entre o trabalho e o bem-estar. O tempo passa rápido e a experiência ajuda-nos a abrir horizontes”, assegura.
De poucas palavras e conhecido pelo seu humor cáustico, Bernardo aproveitou este período além-fronteiras para colecionar amizades, conhecer novas sensibilidades e tomar contacto com pessoas provenientes dos quatro cantos do planeta.
Por outro lado, o conimbricense realça que “nada substitui o espirito descontraído nas ruas e esplanadas portuguesas” e admite que “os invernos são duros e o tempo frequentemente cinzento e desencorajador”.
E Coimbra?
Questionado sobre a possibilidade de regressar à “base”, Bernardo mostra-se pouco recetivo: “Não é fácil… De qualquer das maneiras, procuro ir a Coimbra com regularidade. A maior parte dos meus amigos vive agora em Lisboa e sinto que, também por isso, o regresso torna-se mais complicado”.
Com a distância e as saudades da família e amigos, os recursos tecnológicos têm-se revelado um instrumento muito valioso. “Os grupos do WhatsApp ajudam muito a compensar as saudades. Dessa forma, consigo manter uma relação bastante próxima com as pessoas de quem gosto”, destaca.
Coimbra, porém, não é só passado. Hoje, no presente, Bernardo garante esta faz parte da sua identidade e que ter crescido na cidade dos estudantes proporcionou-lhe uma “vivência social única e praticamente impossível de replicar”.
“Creio que em Coimbra conseguimos ter contacto com um capital humano, uma maturidade e agilidade sociais que serão sempre ativos fundamentais para o resto da nossa vida, no mundo profissional e fora dele”, conclui, orgulhoso.