A ausência de ordenamento florestal na região afetada pelo grande incêndio de 17 de junho de 2017 é a questão que mais preocupa a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), dois anos após o fogo.
“Aqui, devia ser o exemplo”, defende a presidente da AVIPG, Nádia Piazza, relatando que no território assiste-se essencialmente à regeneração natural de eucaliptos, que continuam a crescer junto às estradas da região.
Segundo a responsável, no país assiste-se a “um problema de ordenamento florestal” e, apesar de reconhecer que é um processo que vai levar “muito tempo”, entende que o trabalho devia ter arrancado logo após o incêndio que matou 66 pessoas.
“Temos que ter as nossas zonas de proteção, as casas preparadas para a passagem do fogo” e uma floresta ordenada e limpa, realçou, considerando que as autarquias deveriam eleger prioridades e apostar mais no cumprimento das faixas de gestão.
Durante estes dois anos após o incêndio, Nádia Piazza congratula-se por se ter ido para lá dos estudos e “do papel”.
A criação de uma estrutura de missão que pegasse nas conclusões da comissão técnica independente, o fim de um calendário fechado para a época de riscos dos incêndios, o maior foco na gestão de combustível e o arranque do projeto-piloto do cadastro de prédios rústicos são exemplos de mudança, aponta.
“Se se continuar a caminhar, vai-se caminhar sempre no bom sentido. O meu receio não é que não se caminhe no bom sentido, é que não se caminhe”, frisou a presidente da AVIPG.
Segundo Nádia Piazza, desde que se ande, vai-se sempre “caminhar num bom sentido”.
“Erra-se de um lado, aprende-se do outro, vão-se limando as arestas. Quando o cadastro começou, não era perfeito, tinha muitas falhas, mas lá se foi limando”, vincou, considerando que o importante era, dois anos depois, as consequências dos incêndios não ficarem remetidas apenas a estudos e sem qualquer ação consequente.
No início, os principais objetivos da AVIPG eram apenas de ter acesso à lista de todas as vítimas do incêndio, de garantir que a narrativa em torno da tragédia não fosse controlada pelo Estado e que os estudos desenvolvidos não deixassem dúvidas, como aconteceu na tragédia da ponte de Entre-os-Rios, disse.
“Eu não imaginei que fôssemos mexer com as estruturas ao ponto a que mexemos”, salientou.
Apesar de os problemas estruturais levarem algum tempo a resolver, “o que é preciso é continuar a caminhar”, acrescentou.