Começo por fazer uma declaração de interesses, na medida em que estou ligado a um grupo de saúde privado. Penso que isso não será impedimento para poder falar sobre o assunto de forma totalmente independente.
Para quem não sabe, trabalhei cerca de 30 anos no público e 40 no privado, tendo chegado curiosamente este mês ao fim de toda a minha atividade clínica.
Quando se fala em saúde em Portugal, fala-se invariavelmente no Serviço Nacional de Saúde, de maneira que quanto a mim não pode, de modo algum, ser de exclusiva responsabilidade da esquerda e extrema esquerda de Portugal.
Penso que o SNS é de todos e para todos, e como tal deve ser suprapartidário.
Antes que partilhe convosco outros aspetos, começo já pelas taxas moderadoras que foram ultimamente alvo de repetidas notícias.
Em primeiro lugar, mais de 6 milhões de portugueses não pagam taxas moderadoras e o fato de terem aparecido, deve-se exclusivamente a uma tentativa, quanto a mim certa e indispensável, para criar alguma barreira entre os serviços clínicos e o utente no sentido de evitar que este último usasse e abusasse de um serviço inacreditavelmente caro, e como muita coisa deste país, utilizada sem senso ou qualquer critério.
Imagine-se que me dói uma perna; porque razão hei-de ir ao meu médico de família se indo à urgência do hospital sou imediatamente encaminhado para um especialista de ortopedia?!
Escreveu-se que qualquer utente só teria acesso ao Hospital com carta do seu médico de família a explicar o porquê da urgência. Tal rapidamente “passou de moda” e veja-se o caos absoluto em que se encontram as nossas urgências.
Se retirarem as taxas moderadoras vão seguramente carregar mais aqueles que todos os dias dão o melhor do seu esforço num serviço público ou privado, em prol dos doentes.
Se o nosso SNS é um dos mais conceituados do mundo, isso deve-se a duas ordens de fatores:
– a primeira, prende-se com o altíssimo profissionalismo de todos os agentes envolvidos;
– o segundo, porque quando o público já não tem capacidade, se recorre ao privado, com custos pasme-se bem inferiores.
Sei que a Ministra da Saúde é uma mulher muito perto da esquerda radical, só assim percebendo o “ódio” que a mesma vota a tudo o que é privado.
Ouvindo por acaso ontem o Ministro das Finanças, uma exceção na mediania do Governo Costa, dizia o mesmo que “o dinheiro gasto com a saúde em Portugal tem vindo sucessivamente a aumentar, sendo as verbas para esse setor cada vez mais elevadas”.
Pergunto, Sr. Ministro, se não pede à Senhora Ministra da Saúde que faça um estudo sério para comparar os custos com a saúde pública e a saúde privada? A saúde nunca pode ser motivo de falhas por falta de dinheiro, mas também não deve ser motivo para que todos tenhamos de gastar e pagar impostos, na saúde que procuramos.
Se houvesse verdadeira fiscalização rapidamente chegaríamos à conclusão que para os gastos que temos e a qualidade que vamos conseguindo se devia pautar, em primeiro lugar, pela sagrada decisão dos doentes perante os médicos e serviços que escolhem.
Não será politicamente correto dizer isto, mas sempre disse aos meus doentes que, para se tratarem no público ou no privado, seria, sob o ponto de vista de qualidade, exatamente a mesma coisa, sendo que a única diferença é que no privado poderiam escolher o médico, o serviço, o dia e a hora.
Expliquem-me então, por favor, Sra. Ministra da Saúde e Sr. Ministro das Finanças, se é melhor para o doente e mais barato, porque se teima em criticar tudo o que é privado?!
E, curioso, as duas classes de profissionais mais importantes, médicos e enfermeiros, trabalham sem qualquer problema no público e no privado.
Finalizo dizendo que, a esperança de vida é cada vez maior, e leva-nos, com uma rapidez incalculável, a um colapso do Serviço Nacional de Saúde.
Haja bom senso e vontade verdadeira de servir o doente.