Opinião – Porque cessam as críticas

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Há poucos dias votou-se, mas muitos já devem estar arrependidos da opção que fizeram. Outros consideram que nada há a fazer contra os desmandos do poder que vai, por culpa dos votam nele, infernizar a vida de quase todos. Nem sequer reparam como a sua rua tem cada vez mais prédios em degradação evidente, nem sequer reparam como as ruas da Baixa de Coimbra estão em abandono e ladeadas de lojas fechadas, nem sequer passeiam pelo país para verem que o mal é geral. Contudo, ninguém critica o poder dos vencedores, ninguém escreve nem grita como há mais de um século se censurava em verso:

“Cessem do sábio Mota e Lomelino
As asneiras incríveis que disseram:
Cale-se da cebola e do pepino
A fama das saladas que fizeram:
Que eu canto o nível alto, o nível fino,
Que eles alevantar tanto quiseram:
Cesse tudo que a Musa antiga canta
Que outra asneira mais alta se levanta.” 1

Ninguém parece inquietar-se com a asneira geral que os partidos do bloco central de interesses vão praticando impunemente. Nem sequer reparam como fecharam fábricas, oficinas e lojas. Nem porventura se importam com os campos abandonados e por isso à mercê de qualquer distraído incendiário. Ninguém quer saber as razões que fazem esvaziar as aldeias e vilas do Interior. Ninguém parece estar disposto a unir vozes contra os que erguem barreiras ou seja portagens mal-amanhadas que prejudicam os negócios e o turismo interno e externo.
Nenhum sábio economista calçou os sapatos para ir à rua esclarecer os que votam errado, nem sequer fez funcionar o computador para postar no seu Facebook algumas ideias simples, Eram necessárias para esclarecer quem se predispunha a votar contra os seus interesses mais basicamente legítimos.
Encolheu os ombros e disse que não era nada com ele.
Bem pelo contrário nem sequer reparou que o cabeça de lista do Partido destinado a ser vencedor fazia uns trejeitos que o assemelhavam ao mister Bean, o tal que é capaz de transformar as mais simples situações do dia-a-dia em cómicas confusões. Infelizmente este nosso compatriota vai espalhar pela Europa umas confusões, dando de nós péssima imagem e o seu adversário mais direto também as dará. Outros que estão nestas listas vencedoras vão para o parlamento ganhar uma reforma dourada como muitos me explicaram.
Um dia juntar-se-ão a outros que já cá estão, enquanto outros portugueses, que fazem falta entre nós, andam lá fora a labutar, tentando refazer a vida que estes nossos governantes desfizeram quando tudo lhes podia correr bem ou, pelo menos, aceitavelmente. E os que voltaram, enganados que foram por umas promessas, já se arrependeram. Dizem-me.
E agora que já passaram dias suficientes para avaliarem o que fizeram, os que votaram mal, podem fazer o seu ato de contrição e começar a preparar-se para votar bem em 6 de Outubro próximo.
Nada está perdido. Só está prejudicado.

1 Ercília Pinto – Coimbra e os Estudantes, Coimbra, 1943, p.8.

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