Uma das conferências mais aguardadas era a de Guilherme d’Oliveira Martins, subordinada ao tema “Inclusão como Exigência”.
Nascido em 1952, Guilherme d’Oliveira Martins é detentor de um vasto e diversificado currículo, tendo, ao longo da vida, exercido inúmeros cargos de elevada responsabilidade pública, como por exemplo, o de Ministro da Educação. O seu percurso intelectual, também como homem de letras, escritor e pensador é deveras impressionante.
As suas palavras começaram por se referir à Escola como o “lugar do ócio”, na sua milenar definição grega. A Escola como um lugar onde existe disponibilidade do espírito para indagar. A Escola, na sua essência, como um local onde se pretende saber mais, conhecer mais. Como afirmou Agostinho da Silva ( 1906-1994 ), “a Escola é o lugar onde devemos perguntar”.
Na opinião de Guilherme d’Oliveira Martins, a riqueza das nações está na sua capacidade de aprender. A Escola deve despertar para a liberdade e para a responsabilidade. Na língua alemã, uma mesma palavra define os conceitos de Educação e de Cultura. Educar e aprender é uma tarefa para a vida.
A Educação, no seu sentido mais lato, inicia-se na Infância, período crucial da evolução humana. A dimensão artística (Arte) é a primeira que a criança desenvolve. A relação com o Número, só surge posteriormente e, mais tarde, desenvolverá as apetências pela Literacia. Desenvolvimento pelas artes, números e letras, por esta ordem. A arte em primeiro lugar. Sophia de Mello Bryner ( 1919-2004 ) afirmou que o mais importante na Escola é a música, a poesia e a ginástica.
O caminho para a cidadania é o caminho da exclusão para a inclusão. Tanto caminho que ainda falta percorrer.
Num Congresso da Unesco, realizado em 1990, o lema era “Educação para todos”. O lema anterior, “Terminar com o analfabetismo”, estaria já cumprido ou em adiantado estado de execução. Urge agora estabelecer um novo lema, um novo objetivo, “Educação inclusiva”. Não há cidadania inclusiva sem educação para todos.
O único caminho possível para a inclusão é estabelecendo uma complementaridade entre as políticas sociais e as políticas educativas.
A Educação inclusiva pressupõe uma política social que garanta uma melhor distribuição e repartição da riqueza.
Uma maior coesão social assim como uma maior justiça distributiva, são imprescindíveis para que esta nova fase da Educação se cumpra. O analfabetismo já é residual, a escola já é para todos, mas agora, que temos todos na escola, necessitamos de incluir todos, necessitamos de uma escola mais inclusiva. Este é o novo desafio.
No entanto, a Sociedade parece não estar em sintonia com a Escola, uma vez que assistimos a um agravamento das desigualdades e a uma, cada vez mais assimétrica, distribuição da riqueza. Neste mundo atual, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres, cada vez é mais acentuada. Neste novo mundo, uma minoria cada vez mais reduzida, concentra em si a esmagadora maioria da riqueza. O mundo não caminha para uma maior coesão social. O fosso entre os mais ricos e os mais pobres cada vez se alarga mais.
Nesta perspetiva, se a Educação Inclusiva necessita de uma maior coesão social e de uma melhor distribuição da riqueza e se a sociedade aparenta caminhar no sentido inverso ao da Escola, promovendo e apoiando o contrário do que a Educação pretende e necessita, como aplicar e potenciar uma maior Educação Inclusiva? Como promover uma cada vez maior Educação Inclusiva numa Sociedade cada vez menos inclusiva?
De acordo com Guilherme d’Oliveira Martins, a Educação e a Sociedade necessitam de caminhar, paralelamente, em direção a uma cada vez maior inclusão. Como pode a Escola promover uma maior inclusão se a Sociedade promove uma cada vez maior exclusão?
Uma progressiva inclusão educativa pressupõe uma progressiva inclusão social. Enquanto Escola e Sociedade caminharem em sentidos inversos, a tarefa dos professores, que apesar de todos os constrangimentos, cumprem a sua missão, será sistematicamente dificultada e boicotada.
Como ultrapassar esta quadratura do círculo, nos próximos nove anos, quatro meses e dois dias, é um dos oximoros do momento.
Guilherme d’Oliveira Martins terminou a sua magnífica conferência citando António Sérgio ( 1883-1969 ), “A Escola não prepara para a Vida porque a Vida já está na Escola”.
(continua)