Abril sacudiu receios e medos, arejou, multiplicou a massa crítica, descentralizou o poder, afirmou o municipalismo, dignificou a cidadania, rasgou horizontes, afrontou a opressão e acabou com a tirania.
O ambiente aquece, o sangue ferve e como dizia Torga “a gente faz com os afetos aquilo que as Câmaras Municipais fazem com os degraus públicos delidos pelo uso. Substitui-os de tempos a tempos por outros novos em folha”. Aqui, a substituição é de duas maternidades em uma, mas os humanos fazem da roda dentada às avessas um movimento apenas no sentido da trituração. Em boa verdade a engrenagem deveria aproveitar o ambiente. O ambiente em que a elasticidade dos recursos, até quando, parece e ainda bem, não terem fim.
A mesma elasticidade de recursos sem restrições que aterram em Lisboa e Porto de forma continua. Enquanto por cá vamos perdendo em nome das dificuldades e racionalização financeira travestida de exigências técnicas à pressão centralizadora lisboeta temperada com a serviçal megalomania.
Admito não compreenderem o que digo ou pretendo, mas também eu não compreendo o que dizem sobre a localização da nova maternidade. E menos compreendo o esforço contínuo para acabar com o Hospital dos Covões. Os erros são para corrigir e quando não possam ser corrigidos atenuam-se. Na cidade da saúde e do conhecimento proliferam os hospitais privados, o governo sonhou caminhar para o fim das parcerias públicas/privadas e a questão evidente é conhecer a causa da insistência em secundarizar a importância do hospital dos Covões.
Centralizar numa só administração, um erro que já reconheci, não pode significar a caminhada segura para a secundarização e o seu fim. Perdoem os profissionais da saúde, que tenham de deslocar-se à margem esquerda. Os novos tempos até valorizam muito a esquerda. Está de novo na moda. Aproveitem, trabalhem na esquerda e vivam na direita, as acessibilidades são boas, os jovens têm habitação a bom preço na margem esquerda.
O poder autárquico foi uma conquista de Abril e tem de ser respeitado. Seja qual for o poder autárquico, é impensável equacionar a localização de uma nova maternidade afrontando a autarquia. Quem tem competência para licenciar novas construções é a Camara Municipal. E esta tem de cumprir as exigências urbanísticas, o PDM, considerar as áreas de construção existentes e permitidas, para além do enquadramento do fluxo rodoviário e a segurança. Admitir que se pode construir sem licenciamento municipal, ainda que seja uma construção da administração central, é uma impossibilidade, desconhecimento e uma grande irresponsabilidade.
Acresce, que a zona está muitíssimo congestionada, muita falta de estacionamento, o próprio hospital tem os problemas dos grandes hospitais, que me dispenso de referir e que são conhecidos porque todos nós temos amigos lá a trabalhar. Os hospitais existem para dar resposta aos cidadãos. Os funcionários e a classe profissional da saúde têm de se adaptar. O Hospital dos Covões parece uma boa solução como local para rececionar a nova maternidade.
Estamos fartos de fantasmas. O argumento de que se não for no HUC irá para Aveiro até tem a sua graça! Os Covões ficam distantes, mas pelos vistos Aveiro é mesmo ali ao lado. A instalação da nova maternidade no cumprimento da lei exige diálogo com a Câmara Municipal, como não poderia deixar de ser. Abril assim o exige.