Isto, na verdade, só pode melhorar e a prova disso é o fulgor das artes que aqui se vive.
Na Ucrânia as eleições foram ganhas por um comediante e nós, com a sobranceria do costume, rimo-nos, como também já troçáramos dos brasileiros que, em 2010, elegeram o palhaço do estapafúrdio “Pior do que tá não fica, vote Tiririca”.
Por cá, vamos prescindindo dos palhaços em troca de uns polichinelos pouco dignos da arte circense.
Esta semana, uma das manas Mortágua declamou um bonito poema ao nosso querido Santo António, pedindo àquele santo popular que levasse ‘o Bolsonaro para ao pé do Salazar’. Há que reconhecer o espírito empreendedor da nova esquerda, pois com tantos brasileiros adeptos do seu presidente, a romaria a Santa Comba Dão seria bastante para garantir a dinamização do interior. É certo que, para isso, seria preciso darem cabo do canastro ao senhor e logo eles que não gostam de golpes de Estado (pelo menos contra o amigo Maduro), mas enfim, estou convicta de que depressa esqueceriam o pecado pelo bem que lhes soubera.
Assim mesmo, a ideia foi quase tão brilhante quanto a dos amigos socialistas da Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa que se fartaram das liturgias fúnebres com pesar e recato e resolveram modernizar, arejar as cabeças e os túmulos. É como diz o povo, enterrados os mortos, trate-se dos vivos e, já agora, siga-se o lema socialista de não deixar ninguém para trás, distribuindo mais uns tachinhos, novinhos em folha, a estrear, enquanto se aguardam as listas de Outubro que ditarão a sorte das grandes panelas. A brincar, a brincar, dez mil euros já por lá cantam e, com eles, festeja-se a fraternidade no Largo do Rato. Essa é que é essa…
Mas o circo não se basta com cantilenas e ferrinhos e, vai daí, o animador-mor mostrou as suas habilidades na arte do contorcionismo. Parece que o Senhor Primeiro-ministro se tinha comprometido com os amigos do Bloco a enterrar as Parcerias Público-Privadas na Saúde, mas afinal – sem culpa nenhuma, claro está – para agradar ao Presidente que pedira consensos… enfim, o Primeiro-ministro lá se exibiu numa cambalhota perfeita, provando, mais uma vez, que está desperdiçado em São Bento. Um destes dias, ainda há de aparecer um ingrato traidorzeco a acusá-lo de lá ter feito ‘poucochinho’…
E, nas artes mágicas, a grande revelação foi a Ministra da Saúde, que, com uns pozinhos de perlimpimpim, diminuiu as listas de espera num piscar de olhos e, assim, conseguiu que os doentes morressem ‘dentro dos prazos legais’. Um truque à altura do Copperfield…
Finalmente, porque não há tempo para mais, deste desfile de talentos há que destacar os mestres das artes manuais. Veio, então, o Ministério Público dizer que um tal ‘Mãos de Ferro’ recebeu 400 mil euros do famoso ‘Mãos Largas’, o amigo do Senhor Engenheiro, ‘Mãozinhas’ para os amigos. E, no meio da engenhoca, houve ainda um tal Farinho, Senhor Professor de Direito – veja-se bem – que, nas horas vagas, a troco de uns míseros 55 mil euros, escreveu os famosos ensaios do Zé, enquanto ele andava lá fora a lutar pela vida, a tratar das obras do apartamento do amigo, em Paris.
Não me restam dúvidas, os jovens ambiciosos deste país devem investir nas artes.
Mãos lestas, corpo mole, uma boa dose de pouca-vergonha e um qualquer laço de parentesco com o Carlos César são garantia de uma bonita carreira na gestão de cemitérios (e há-os por todo o país). Conforme as suas aspirações de integrar o Governo ou de ganhar dinheiro a parecer bem, também lhes dará jeito tratar por ‘tu’ o nosso Primeiro ou qualquer membro da trupe dos ‘Manápulas’. Por isso, avisados que estão, se insistirem numa bonita carreira nas Ciências ou nas Humanidades (e na trabalheira que elas dão), aguentem-se à bronca, aprendam a contar os tostões e não se queixem.
E, já agora, como bons democratas, vão participando nas comemorações da democracia e divirtam-se a brincar ao faz-de-conta. É porreiro, pá!