Opinião – Congresso sobre Educação na Figueira da Foz ( I )

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Nos dias 29 e 30 de março, a Figueira da Foz acolheu quase oitocentos professores, oriundos de todo o país, a fim de participarem num grandioso congresso subordinado ao tema, Que Educação?

Lotação esgotada no Grande Auditório do Centro de Artes e de Espetáculos da Figueira da Foz, para escutar e interagir com pensadores e intelectuais como Guilherme d’Oliveira Martins, Álvaro Laborinho Lúcio, Daniel Sampaio, João Costa, José Bernardes, Ariana Cosme, Maria do Céu Roldão, David Justino, entre outros.

Participação ao mais alto nível da Câmara Municipal da Figueira da Foz, com intervenções de João Ataíde, Presidente da CMFF e de Nuno Gonçalves, Vereador da Educação da CMFF, ambos com elevadíssimo empenho em relação às temáticas relacionadas com a Educação.

Organização primorosa do Centro de Formação de Professores Beira Mar que reúne dez unidades de gestão (escolas e agrupamentos de escolas) dos concelhos de Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Cantanhede, Mira, Tocha, abrangendo cerca de mil e quinhentos professores de todos os níveis de ensino.

Daniel Sampaio, que há décadas se preocupa com os alunos, os pais e as escolas, proferiu a primeira conferência, subordinada ao título, A Ética Relacional: uma vertente essencial na Educação de Hoje, começando por recomendar a leitura do livro, Ética para um Jovem, que Fernando Savater, escritor e filósofo espanhol, nascido em 1947, redigiu com conselhos para o seu filho, que na época tinha quinze anos. Na opinião de Daniel Sampaio, este livro, publicado em Portugal em 1991, resume tudo o que é essencial, no respeitante a esta matéria, da educação para os valores, para a liberdade e para a ética.

Daniel Sampaio considera que em primeiro lugar são as famílias que educam os jovens e só depois surge o papel a desempenhar pela escola e pelos professores. Atualmente, as famílias tradicionais estão em crise, as famílias são muito instáveis, sucedem-se os divórcios, as separações, realizam-se cada vez menos casamentos, os pais têm frequentes roturas que se revelam, muitas vezes, profundamente traumáticas para os jovens. Assim, Daniel Sampaio é de opinião que estes novos ambientes familiares não contribuem para a segurança emocional dos jovens, sendo que a educação ministrada pelos pais é mais importante do que a educação ministrada pelos professores.

O psiquiatra, nascido em 1946, destacou vários estilos parentais, ou seja, diversas formas de os pais exercerem a sua autoridade junto dos respetivos filhos. Na sua opinião, o estilo autoritário, característico da primeira metade do século XX, não funciona com as crianças e os jovens atuais. O estilo permissivo, permitindo que os jovens se comportem como muito bem entenderem, também não será o mais indicado. O estilo negligente, no qual os pais não acompanham os filhos, deixando-os mais ou menos ao abandono, também poderá ter consequências indesejáveis.

O estilo parental mais aconselhado por Daniel Sampaio será o estilo persuasivo, no qual os pais se envolvem emocionalmente com os seus filhos, numa parentalidade construída desde a infância até ao final da adolescência. O envolvimento e a proximidade afetiva facilitam a educação, tanto por parte dos pais como por parte dos professores.

Os estilos autoritário, permissivo e negligente não resultam e acabam por conduzir, mais tarde, a um autoritarismo que terá consequências ainda mais nefastas.

Pais controlados e famílias saudáveis têm mais facilidade em promover uma autonomia controlada dos seus filhos. Durante o período da adolescência, os pais têm que ter a noção que não sabem, nem podem querer saber tudo, acerca dos seus filhos. Nem os pais, nem os professores. Há temas que os adolescentes, pura e simplesmente, não gostam de partilhar, sendo que muitos não conseguem regular as suas emoções.

A parentalidade deverá ser, igualmente, construtiva, devendo-se elogiar o mérito e o esforço, assim como saber elogiar o mérito da mudança.

No que diz respeito à dinâmica da sala de aula, Daniel Sampaio recomendou uma boa colaboração e diálogo entre o professor e os alunos, desde a educação pré-escolar até às aulas na Faculdade. Na sua opinião, os alunos têm uma grande necessidade de falar e estão sedentos de serem ouvidos. Assim, o psiquiatra desafia os professores a falarem menos e a ouvirem mais.

Daniel Sampaio foi muito aplaudido, mas os oradores seguintes também não iriam desiludir.

(continua)

 

Pedro Mota Curto escreve à quarta-feira, quinzenalmente

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