Ao ouvir os vários candidatos europeus, apercebo-me da enorme necessidade de liderança para o projeto Europeu. Fala-se de muitos assuntos, geralmente de forma muito localizada, mas muito pouca gente é capaz de uma visão geral, geoestratégica, que enuncie o que está a acontecer no mundo e como pode a Europa retomar uma posição de liderança.
A grande força económica da Europa perdeu competitividade e está em perda acentuada. Essa força estava baseada em três fatores: 1 ) Numa indústria forte, inovadora e capaz de produtos que faziam a diferença no mercado; 2 ) Na capacidade de liderar, em muitas áreas, a investigação e geração de conhecimento; 3 ) Um modelo social e político que, pela sua organização e características, era atrativo para recursos-humanos de elevada capacidade técnica, científica e de com criatividade.
A Europa dos valores, da paz, que desenvolveu um modelo social e político que foi capaz de formar a União Europeia e, no essencial, colocar países tão diversos a cooperar para objetivos comuns, depende muito do suporte económico.
O mundo, entretanto, mudou. A globalização atingiu em força uma Europa algo cansada e desfocada dos seus objetivos de longo-prazo. Apanhou-nos distraídos. Para além disso, nos locais mais competitivos, existia um problema demográfico em desenvolvimento (que se agravou com o tempo), com algum desinteresse por áreas técnicas e de conhecimento científico. A Europa deixou de liderar na geração de conhecimento, na capacidade de colocar o conhecimento ao serviço da economia (de inovar) e de garantir a sustentabilidade do modelo social que desenvolveu e que era, no essencial, a sua força de atração.
A solução simples, para quem anda distraído, é sempre deslocalizar. A Europa deslocalizou e não cuidou de antecipar o que podia acontecer. Meios de produção foram para leste e para o oriente: havia ganhos imediatos com a redução de custos do trabalho e de contexto. A competência foi deslocalizada e deu frutos noutros locais. O problema de competitividade resolveu-se, no curto-prazo, porque os custos de produção baixaram, mas criou-se um problema maior no médio e longo-prazo. Reganhar competitividade não é agora um problema de solução simples. A distância já é muito grande, não há nada para deslocalizar e a competição é agora feroz, também ao nível da qualidade, da incorporação de conhecimento nos produtos e na capacidade de inovar.
Há esforços conscientes para reganhar competitividade. A “Indústria 4.0” é um esforço para criar uma plataforma tecnológica que permita ganhos ao nível da cadeia logística. O objetivo não é a tecnologia, mas sim o que será possível fazer com ela. A Alemanha, como grande potência económica, percebeu que teria de investir fortemente numa plataforma tecnológica que permitisse reganhar competitividade com uma revolução na cadeia logística, isto é, no fluxo de produtos e matérias-primas entre o projeto e o cliente final. Isso, pensam os alemães, talvez abra espaço a um novo ciclo-virtuoso que permita à indústria europeia, especialmente a alemã, retomar uma trajetória de crescimento que, de novo, alimente o ciclo de geração de conhecimento e seja suporte do nosso modelo social. O investimento muito avultado em tecnologia tem em vista ganhos de crescimento da indústria muito significativos em 2025. Não sei se vai resultar, apesar de ser um investimento liderado pela indústria, porque ao nível político os “líderes” andam perdidos.
Os conflitos, os radicalismos, a desunião, a incapacidade de pensar a longo-prazo, toda essa coleção de fantasmas que vemos agora, incrédulos, a reaparecer, resultam de um fator essencial: o bloco europeu perdeu músculo económico e não é capaz de sustentar o seu modelo social, ou seja, deixou de ser capaz de integrar e crescer em termos civilizacionais.
É esse debate que é necessário fazer. É essa informação que precisamos de transmitir a quem nos ouve.
Ao ver os candidatos europeus na sua lengalenga de campanha eleitoral, verifico que muitos não se apercebem de facto do que está em causa. E isso sim é preocupante.