O que o levou a apresentar-se como candidato à Académica?
Um conjunto de circunstâncias que foram aparecendo, primeiro na comunicação social, a levantar a hipótese de que estaria a ser negociada a entrada de capital na Académica, convertendo a atual SDUQ numa SAD. São notícias que não foram confirmadas, nem desmentidas. Na semana passada, de facto, começámos a ter a confirmação de que era isto que estava a ser preparado. Como discordamos completamente deste modelo e, tendo em conta que isto ia ser apresentado aos sócios como algo inevitável, e porque acreditamos que há maneiras de evitar que os sócios percam o controlo da sociedade desportiva, avançar era a única forma que tínhamos para evitar isso.
Foram estas circunstâncias que fizeram com que se candidatasse agora e não em 2016?
Que tivesse conhecimento, nessa altura não estava a ser preparado um modelo deste género e, portanto, esta motivação não teria. Fiz parte da direção que se demitiu, nesse ano, na sequência de um compromisso com os sócios, vários meses antes do desfecho desportivo, para pôr fim a um ambiente complicado que vivíamos nessa altura. Nessa altura, não era previsível nem sequer houve essa discussão, portanto são quadros incomparáveis.
Até pouco tempo antes do final do prazo para entrega das listas, chegou a ser falado o nome de Salvador Manuel Arnaut, seu candidato a vice-presidente, para liderar esta alternativa. Foi ele que o convenceu para liderar a candidatura?
De facto, era algo já veiculado há muito tempo no meio académico, mas ele nunca teve essa decisão tomada. Mas, não sendo a única, a opinião dele teve um peso muito importante para mim.
Com 46 anos, um filho pequeno, foi fácil conseguir o apoio da família?
A primeira pessoa com quem falei foi a minha mulher, naturalmente. Temos um filho com quatro anos, daqui a um mês vai nascer o nosso segundo filho, se Deus quiser, e a primeira pessoa a quem perguntei opinião foi ela. Disse-me que estaria 100 por cento comigo, fosse o que fosse que achasse que seria importante fazer. E era muito fácil ela convencer-me do contrário.
Nasceu em Santarém. Como nasceu o amor pela Académica?
Vivi lá até aos 14 anos, quando, por razões profissionais, o meu pai foi colocado em Coimbra e a família mudou-se. Vivia na Casa Branca e, em Santarém, não estava habituado a ver jogos de futebol profissional. Sete ou oito meses depois de vir, resolvi que me queria fazer sócio da Académica. O meu pai não era muito adepto de pagar quotas para clubes de futebol e aquilo saía-me da mesada todos os meses. Aliás, havia meses que o senhor Mendes lá tinha de ter paciência porque o mês era mais apertado. Entretanto, entrei na Faculdade de Medicina, fui praxado por um grupo de sócios dos Fans e acabei por passar, se calhar, tempo de mais, naquela sede dos Arcos, onde havia a sala dos Fans. E fui acompanhando os jogos em casa e fora sempre que podia.
Foi vice-presidente no último mandato de José Eduardo Simões. Considera que isso é uma vantagem ou uma desvantagem para si nesta eleição? Ou não faz diferença alguma?Ponto prévio: Fiz parte da direção da Académica. Foi uma enorme honra para mim, independentemente do final do mandato, que me deixou muito triste, fazer parte da direção da Académica e desta instituição. Eu não analiso as coisas desse ponto de vista eleitoralista que se está a tentar criar. Não tenho problemas nenhuns em assumir que fiz parte dessa direção. O Eng.º José Eduardo Simões fez coisas boas e outras menos boas, como todos os presidentes, antes e depois dele. A lógica que se está a tentar instituir de que esta lista é conotada com o Eng.º José Eduardo Simões ou poderá ser influenciada por ele cai por terra quando vemos que das 20 pessoas da lista há apenas quatro que fizeram parte dessa direção. E são quatro pessoas com valor intrínseco que me fizeram querer que fizessem parte desta lista. Essa eventual conotação, é usada por razões, infelizmente, eleitorais, mais nada.
Quando assumiu funções na Académica, em 2014, a escolha entre SAD e SDUQ já tinha sido feita, um ano antes. Mas há pessoas na sua lista que defenderam a constituição de uma SAD em 2013. O que mudou entretanto?
O modelo SAD que as pessoas que fazem parte da minha lista defendem publicamente não tem nada a ver com o modelo que está a ser preparado pelo presidente Pedro Roxo. O modelo proposto em 2013 obrigava a que a maioria do capital societário estivesse sempre no clube. E não é isso que está a ser preparado. Não se trata de uma contradição, mas são dois modelos diferentes. É fácil por isto numa lógica de SAD ou SDUQ, mas há várias SAD… O que foi defendido na altura não tem nada daquilo que eu espero que, entretanto, apresentem, de fora clara, aos sócios.
É essa SAD sem maioria do clube que rejeita, ou, nunca uma SAD consigo estará em hipótese?
Uma SAD em que a maioria do capital social esteja fora do clube está fora de questão. É uma linha vermelha que nunca ultrapassaríamos, porque o maior património da Académica são os sócios. E é por defender esse património que me candidatei. A partir do momento em que o capital passe a ser de uma entidade estranha, os sócios perdem a soberania.
Acha que esta questão ficará definitivamente resolvida nestas eleições, ou colocando o cenário de não vencer as eleições, vai continuar a combater esse modelo de SAD minoritária?
Mesmo que aconteça o que eu penso que não acontecerá, ou seja, o Eng.º Pedro Roxo ganhar as eleições, estatutariamente, haverá sempre a obrigação de referendar os sócios sobre a alteração do modelo de gestão. Os sócios terão de falar especificamente sobre esse assunto.
Queixou-se da falta de clareza das contas à partida para este ato eleitoral. Tem algum tipo de reservas sobre o estado financeiro da SDUQ?
A última informação oficial é o relatório e contas de junho de 2018. Se, nessa altura, já não eram contas famosas, aparentemente, daí para cá, o quadro piorou. Nessa altura não tínhamos funcionários como chegámos a ter com sete meses e meio de salários e subsídios em atraso. Calculo que ninguém terá prazer em ter salários em atraso. Curiosamente, nos últimos dias, foram resolvidos parte desses problemas. Mas tudo me leva a crer que a situação financeira estará pior. Não falamos apenas de salários, mas fornecedores e credores em geral. Mas os nossos estatutos também não permitem uma informação mais clara e atempada. Só vamos conhecer o balancete do mês de abril na próxima segunda-feira. Não sei o valor do passivo, mas estaremos preparados para fazer face ao que surgir.
Assumiu que, numa primeira fase, admite ter de recorrer a um empréstimo bancário para fazer face aos eventuais problemas financeiros, avalizado pelos elementos da direção. Como conta, depois, encontrar financiamento?
Talvez essa seja uma das grandes diferenças [entre as duas candidaturas]. Acredito que a Académica tem capacidade para ser muito mais rentabilizada. E por isso me rodeei de pessoas com vasta experiência tanto no campo empresarial, como no campo comercial. Por um lado, para reduzir despesas desnecessárias e potenciar receitas. Por outro, para potenciar esta marca única que é a Académica, que tem sido muito mal explorada.
Conseguiu reunir nesta lista a equipa que desejava?
Sem dúvida.
Tem vindo a divulgar o programa eleitoral com os seus candidatos a vice-presidentes a darem conta das ideias para cada “pelouro”. São ideias muito debatidas dentro da candidatura, ou que foram “absorvidas” das pessoas que escolheu para cada lugar?
Este grupo de pessoas – algumas nem se conheciam umas às outras – tem vários pontos em comum. Para além do amor à Académica e da sua experiência, todos eles, à sua maneira, talvez por defeito pessoal, ou profissional, foram juntando ideias que poderiam ser postas em prática na Académica. A escolha das pessoas teve a ver com essas ideias que me transmitiam. Algumas que iam ao encontro do que acho há muito tempo, mas com cunho profissional, que acho que é o que tem faltado.
Defende uma aposta privilegiada na formação. Contará com o vice-reitor da Universidade de Coimbra, António José Figueiredo, para essa missão. O que acha que tem faltado para a equipa profissional colher frutos da formação?
É preciso um investimento sério. Um investimento que não só de palavras. Dar condições para se trabalhar, para depois colher frutos, que nunca são imediatos.
E é possível conciliar esse investimento com a aposta numa equipa para subir de divisão?
Claramente. Uma coisa está ligada à outra. A formação devia ser o maior fornecedor da equipa principal. Temos tido alguns que vêm da formação na equipa profissional, mas são poucos. Tem de haver uma interação muito grande entre a equipa profissional, os sub-23 e a formação.
Ainda é possível preparar, a partir de 2 de junho, uma equipa para subir de divisão?
Não ponho outra hipótese que não a da Académica ser sempre candidata à subida de divisão. Mal estaremos no dia em que deixar de o ser. Por isso sim, e é para isso que vamos trabalhar.
O que terá falhado nestes últimos anos para que o objetivo não tenha sido assegurado?
Não gosto de me debruçar no passado para atirar pedras. Sem me adiantar muito, sintetizo em duas palavras: liderança e organização.
Esta terça-feira, o seu candidato a vice-presidente com a pasta do futebol profissional, Salvador Manuel Arnaut, divulgou um vídeo que recebeu de Pedro Emanuel, recordando a conquista da Taça de Portugal. Será este o seu treinador?
Ainda não escolhemos. Estamos a traçar o perfil que desejamos e a preparar esse dossiê, mas ainda não está nada decidido.
A 1 de junho ainda é cedo para preparar o plantel profissional, ou já terá jogadores abordados nessa altura?
Estaremos em condições para, a partir de 2 de junho, sim, assumir compromissos, quer com jogadores, quer com equipas técnicas.
A 1 de junho serão menos de três mil os votantes. Que estratégia tem para fazer crescer o número de sócios?
Como disse, são o maior ativo e, infelizmente, temos vindo a perder sócios de ano para ano. Fazer campanhas soltas não fideliza os sócios. Temos de lhes mostrar as vantagens de ser sócio da Académica. Temos de tratar bem os sócios. Fui, no dia 20, tentar fazer uma fotografia junto da Taça de Portugal de 2012, no sétimo aniversário da conquista. A porta do museu estava fechada e disseram-me que tinham de pedir autorização ao presidente. Estive lá 40 minutos à espera, e tive de me vir embora. Isto não faz sentido. É um exemplo de como a marca é mal gerida e os sócios são mal-tratados. O provedor do sócio é uma figura instituída para ser a voz dos sócios junto da direção. É uma figura que, infelizmente, até hoje, ainda não foi instituída. E queremos pôr isso em prática. Muitos dos sócios não estariam em condições de votar, ou porque o são há menos de dois anos, ou porque têm menos de 18 anos. Mas também há muitos que não poderão votar, ou porque se esqueceram, ou porque foram mal esclarecidos. Não há nenhum mecanismo de lembrar os sócios para votar. É por isso que temos muitas figuras históricas da Académica que não poderão votar.
Tem recebido muitos apoios à sua candidatura. Algum que o tenha sensibilizado em particular?
Tenho recebido muitos apoios, de sócios que, alguns, ainda nem conheço pessoalmente, mas que já manifestaram confiança em mim e nas pessoas que me acompanham.
Quanto à segunda parte da pergunta, para mim todos os sócios, mais ou menos anónimos, são importantes. O sócio mais anónimo enviar-me uma mensagem pelas redes sociais a manifestar o seu apoio e a disponibilizar-se para ajudar tem tanto valor como o apoio do sócio mais proeminente.
Candidata-se a um mandato de três anos como presidente. Nesse mandato, qual seria, para si, o maior sonho realizado?
Divido em duas partes: Por um lado a parte desportiva e a subida à 1.ª Liga, que é o lugar a que a Académica pertence. Por outro, credibilizar o clube.