Opinião – Um dia na vida do Zé

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O acordou ao som do rádio despertador holandês, e logo de seguida, fez o café da manhã na máquina italiana. Meteu-se no carro japonês para ir ao hiper-mercado, de nome estrangeirado, comprar legumes marroquinos, batatas francesas, iogurtes gregos, cebolas, alhos e cogumelos espanhóis, espargos peruanos, chocolates suíços, salmão norueguês, carne polaca, e bananas da Costa Rica. Voltou atrás para comprar leite, tendo acabado por escolher o mais barato, que, não por acaso, era dinamarquês. Olhou para os vinhos nacionais, mas por uma questão de economia, escolheu uma “Pilsen” de marca germânica, mas feita na Bélgica. Na caixa, a empregada brasileira recebeu, em euros, uma conta calada! Mas que, “mesmo calada, bradava aos céus”!
Ao regressar a casa, ligou o fogão elétrico alemão, alimentado pela empresa de distribuição espanhola que cada ano lhe oferece um mês à borla, e grelhou o peixe na placa norte-vietnamita. Ligou a televisão acabadinha de comprar, um assombro da tecnologia sul-coreana! As notícias que nela mirou e escutou, falaram da extraordinária recuperação da economia nacional, entre umas demissões esquisitas, de uns primos que, na maior boa-fé, se tinham ajudado mutuamente! Decerto, teatral erro de “casting”, já que nisto de primos e primas, diz o povo que, quanto mais o são, mais se lhes arrima! Acabou por adormecer no sofá italiano, para uma merecida “siesta”.
Quando acordou, ia a tarde longa, foi até à tasca da esquina, onde tomou um café colombiano, e atirou uns dardos num jogo eletrónico, daqueles em que povos engenhosos se especializaram. Rumou à padaria, onde comprou um cacete feito com trigo provindo do leste europeu. Quando chegou a casa, fez uma sandes de flamengo holandês, e ligou o computador portátil americano. Foi então que, aturdido pelas notícias lidas na internet, ligou, pelo telemóvel chinês, ao filho, mestre por universidade nacional, que emigrara para o Reino-Unido, para ter trabalho condigno.
Pela conversa do filho, conceituado especialista, e da lusa nora, enfermeira-chefe, percebeu que a situação está muito confusa, e que nada augura de bom, por um reino com uma democracia tão antiga, andar tão baralhado como desunido. Mas o que terá dado àqueles sapientes povos, para se fiarem nas falinhas mansas de uns políticos bem-falantes, mas que menosprezaram gravosas consequências de abandonar “nave titânica” que, como o Titanic, não tem salva-vidas bastantes para acudir às calamidades, que sendo tão incertas como surpreendentes, acabam por acontecer?
Depois do jantar, a televisão noticiou que o desemprego descera de novo. Aí, pensou que, como ele, muitos outros estão sem emprego há tanto tempo, que já nem contam para as estatísticas de desemprego! Mas depressa a telenovela brasileira o tirou do sério, e voltou a sorrir com aquele sotaque tão engraçado, que agora se ouve por todo o lado. Ao deitar, notou que a mobília barata, comprada “nakela” loja sueca, era de origem búlgara e romena. Mas, como o lençol era do Vale do Ave, e o bordado de Ponte de Lima, respirou de alívio, por o atual primeiro-ministro, entre as questiúnculas familiares, gerir como ninguém um governo de apoio tripartido que cria fantasias, e por o ministro das Finanças, porta-voz do Eurogrupo, ser um génio maior do que foi Aladino!
É que a economia portuguesa é tão portentosa, que cresce mais que a média da União Europeia! Quantas décimas mais, não sabe o Zé, nem diz o primeiro-ministro! Para adormecer, ligou o rádio, que entre canções difundia ilusões, como a deste governo garantir que, futuramente, neste excelso paraíso luso, tudo andará sobre carris… Foi então, que o Zé estremeceu! Mais palavras, para quê? Será preciso fazer um desenho? Mas para isso, não é preciso um artista?! Já agora, se carecer de um verdadeiro artista, tenho um afilhado fabuloso, e como sabe, afilhado nem sequer é família, pelo que não transporemos qualquer linha vermelha, nem sequer rosa. Haja decoro!

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