Opinião – Esperanças vãs

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Todos dias se semeiam esperanças e, neste tempo pré-eleitoral, essa sementeira torna-se mais abundante. Entretanto, havendo algumas mudanças nas cadeiras do poder, somos confrontados com caras de gente que se sentem traídas por promessas, que agora se esvaem, para logo se encherem de novas ilusões. Nada de grave pois não se repete aqui a história de quem: “Saiu do Fundão para, em Coimbra, se submeter a uma operação cirúrgica na bexiga. Pouco depois de ali chegar surpreendeu-o a morte, quase repentinamente”. ( 1 ) Agora as ilusões só surpreendem os incautos, quase nunca há mortes.
Quem vai embora como resultado da próxima pugna eleitoral vai porque quer, contudo, alguns que mudaram de partido, para os acompanharem, ficam nos cais dos comboios para Bruxelas, chorando a sua desdita, mas isso não é grave: É só a repetição como comédia de tudo o que desde sempre acontece entre nós.
Pior é o nosso Interior continuar abandonado ao seu triste e continuado esvaziamento, que entendemos como o resultado de movimentos perfunctórios e demasiados desconexos dos seus ambiciosos e até ingénuos líderes. Uns e outros acreditam que das ilusões criadas nascem coisas inesperadas e sempre boas.
Mas, nada disso acontece quando vemos empresas a fechar e campos que já não têm quem os cultive e se antevê um verão com fogos. Tememos agora recordar o verão e outono de 2017, em que a tragédia se multiplicou por uma conjugação de erros de governação que, por todos seria previsível, se soubessem que certos atos de desgoverno tinham acontecido. Foi por isso surpresa tanta morte e ainda não sabemos quem foram os causadores deles. Continuam por isso felizes e cheios de sucesso fácil.
Todos ou pelo menos muitos concluem que é o esperado nesta terra cheia de amos, os que se escondem por detrás dos seus títeres, que gostam muito de ser fantoches.
Fomos nas últimas semanas informados dos jogos eleitorais dos partidos do centro da governação que, com as suas danças de cadeiras, só pretendem continuar no poder, pese embora não o saberem usar, e nem é isso que querem. Querem só a vã glória de mandarem e, inevitavelmente, sabemos, descomandarem.
Acontece tudo quando as regras comunitárias deixaram já de convencer os anglo-saxónicos, que estão num impasse, cujo desfecho não conseguimos antever razoavelmente. Também o mundo imerso numa teia de sentimentos violentos se encaminha para uma escalada de violência global, expressa por tragédias locais de que todos somos informados em tempo real.
Só não somos informados da forma eleitoral concreta com que Jair Bolsonaro e Donald Trump foram eleitos. Mas, estes alcandorados na sua “democracia”, só querem salvar a Venezuela, esquecendo-se deles próprios e da miséria que campeia nos seus países.
Nem sequer se lembram dos desastres naturais e, concretamente, de Moçambique.

( 1 ) Gardunha, ano 1, n.º 16, 22 de Março de 1936, p. 3, coluna 3.

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