Opinião – Todos para o Estádio, porra!

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Os festejos do meu 51.º aniversário levaram-me ao berço da Nação e, a um saboroso passeio pela cidade, seguiu-se uma extraordinária andança futebolística. A torrente de pessoas que passava pela Praça do Toural, em passo certo e determinado, típico de quem sabe ao que vai, não deixava dúvidas acerca da localização do estádio e nós lá fomos, cativados pela magia do desporto-rei. Eu, assombrada por histórias antigas e caducas, ainda sugeri que não falássemos da Académica, mas nenhum dos parceiros me ligou nenhuma.
Éramos quatro, mas, entretanto, pelo caminho, já uma alegre e bonita minhota ofertara um convite a um dos homens (também ele alegre e bonito – diga-se -, o que muito abona a favor do arrebito das mulheres do Norte), pelo que nos dirigimos à bilheteira. Ali, no berço, com o habitual arrojo dos portugueses, perguntámos se não havia mais convites para forasteiros, curiosos pela famosa movida vitoriana.
O funcionário do clube, com ar impávido, perguntou-me “E, então, Menina, quer bilhetes para a central? São 20€.”, ao que eu respondi “Pois claro. Atrás das balizas, não se vê a bola.”. “E, Menina, Vitória ou Boavista?”, insistiu ele. “Vitória, pois claro. Então nós pedíamos-lhe convites para aplaudir os vossos rivais!?”, repliquei de supetão. Serenamente, sem mais, o mesmo funcionário pediu-me 15€ pelos três bilhetes que nos faltavam, todos na bancada central, pois claro, mas a preço de sócio para a nascente.
É assim que se conquistam os mouros, está visto. Ou, então, a ferro e fogo, como reza a História, terçando armas, de mangas arregaçadas, peito descoberto e coração colocado.
Não me restam dúvidas: Portugal nasceu em Guimarães e a paixão pelo futebol também, e por ali ficou e montou arraiais. No sábado, eram 17985 espectadores a animar o Tozé, o Guedes e o Mattheus, e a proteger o Rochinha das ofensas boavisteiras.
No estádio, povoado de famílias inteiras, homens e mulheres, velhos e novos, ricos e pobres, a gente daquelas bandas mostrava que o Vitória é seu. Cantavam todos, levantavam-se em sincronia, e até praguejavam em uníssono (do típico ‘filho da mãezinha’ ao característico ‘a mãezinha que te pariu’, em tom pujante e compassado).
Sim, porque os Panteras Negras, claque do Boavista, abriram as hostilidades com insultos às gentes do Vitória, que lhes valeram uma grande comichão provocada pela sarna que assim arranjaram. Até ao apito final, foi vê-los a coçarem-se sem parança, ao mesmo tempo que as bancadas do estádio se enchiam de palmas, assobios e gritos, num coro de vozes de todas as idades e ambos os géneros, vigorosas e afinadas: ‘Pelo Vitória, tudo’, segundo o hino dos ‘White Angels’, a maior das três claques que nunca se calaram, mostrando a garra do Norte e as ganas de vencer dos autointitulados ‘Conquistadores’.
Desconfio até que os festejos não se terão ficado pelas ruas e que o entusiasmo pela vitória sobre o rival do Bessa há-de ter ajudado ao acréscimo da natalidade de que o país tanto precisa. Bravo!
Aqui e agora, antecipando a embirração de quem vê o futebol (e a vida) a ‘preto ou branco’, declaro o meu incondicional amor pela Académica. E, em nome desse amor que nos une, sugiro que esqueçamos os binómios fundamentalistas para podermos apreciar o encanto dos regionalismos expressos nas tradições da Briosa, na garra do Vitória ou na genica do Farense.
Ó Briosa, para que a cidade te saiba sua e assim te defenda com unhas e dentes, levando-te em ombros à 1.ª divisão, aproveitemos as ganas de vencer do ‘Luvas Pretas’.
E vamos lá, tricanas e estudantes, vamos lá mostrar que Coimbra é uma lição e gritar pela Briosa até que a voz nos doa. No Estádio, porra, porque em casa ninguém nos ouve…

(PS: Perdoem-me a linguagem menos própria,
mas não saí ilesa deste convívio vimaranense.)

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