“Outrora a velhice era um a dignidade; hoje ela é um peso”.
François Chateaubriand
Gostava de saber a sua opinião, caro leitor, expressa em comentários a este meu artigo, sobre a expulsão em retroactividade – que julgo atentar contra princípios de boa-fé e protecção da confiança por parte do Estado – de familiares de beneficiários idosos, doentes e, por vezes, com elevado grau de deficiência por usufruírem de magérrimas pensões para as quais descontaram mensalmente para a Segurança Social.
Curiosamente, em todos os debates de “Prós & Contras” que assisti sobre este assunto nunca este facto foi tratado, ou simplesmente aflorado, pelos corifeus da ADSE, ou quaisquer outras entidades presentes, talvez porque, como sentenciavam os antigos romanos ,“de minimis non curat praetor” (o pretor não se ocupa de pequenas questiúnculas).
Mas não se trata, senhores que nos governam de questiúnculas, trata-se de vidas humanas (uma que fosse!) que vos deviam merecer grande e acrisolada atenção por se tratar de gerações que vos antecederam e que em vez de receberem a vossa gratidão merecem o vosso silêncio cúmplice por uma responsabilidade que não desejam assumir.
Quem sabe se por remontar ao tempo da Grécia Antiga em que os velhos, doentes e deficientes eram lançados de altas escarpas para não se tornarem pesados para o erário público, em Portugal d’hoje substituem-se essas migalhas de dispêndio por escândalos diários de corrupção causando a repulsa da população portuguesa nascida e criada em ambiente familiar ou social a quem repugna este “statu quo”, ademais em debates, como os “Prós & Contras” de ontem ( 25.Fev.2019 ), em que a palavra solidariedade foi repisada várias vezes por parte de alguns dos seus intervenientes.
Ora, a única solidariedade que me foi dada ouvir passou-se entre pontos de vista, ou simples achismos , concordantes em defesa, essencialmente, da medicina convencionada a quem o estado decadente do Serviço Nacional de Saúde, pese embora a acção dedicada da maioria dos seus médicos e enfermeiros, menina dos olhos do seu falecido criador António Arnauth, lhe abriu novas rotas , por vezes, em sistema autofágico por abrir desregradas convenções em localidades em que elas já chegavam e sobram para as encomendas.
Neste debate, apropriando-me de palavras de Eça, meu escritor de eleição, “sempre a mesma exageração ! Todo aquele barulho, pelos céus fora, por um bocado de toucinho!”. E o que esperar de discussões sobre temáticas da Saúde que não envolvem simples pedaços de toucinho, mas bácaros inteiros, imortalizados por Rafael Bordalo Pinheiro, em que cada um deles procura avidamente a sua teta?
Descrente de debates que envolvam a ADSE era minha intenção não assistir a este último. Fi-lo, apenas, porque instado por uma das minhas filhas esperançada que desta vez viriam à baila questões de humanismo que a sua formação cívica contempla, e, por temer eu, por meu lado, estar a ser demasiado pessimista sobre a malvadez da ADSE em relação a familiares de seus benificiários.
Termino declarando a minha tristeza em ser cidadão de um país em que a ingenuidade dos portugueses os leva a acreditar que um dia, sem ser para as calendas gregas, os pratos da justiça deixarão de pender para o lado dos poderosos e dos argentários.
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