Opinião – Parabéns, António Costa!

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Aprontem foguetes, tambores e confettis, porque há festa na terra da geringonça. Como diz o povo, até um relógio parado acerta na hora duas vezes ao dia e, a prová-lo, a engenhoca deu, afinal, boas horas. E não, não me refiro ao mais baixo défice da democracia portuguesa, porque esse bem sabemos como foi arranjado. O que merece a minha vénia são os novos passes, intermodais e intermunicipais, que entraram em vigor nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, promovendo a mobilidade, diminuindo o tráfego e a respectiva pegada ecológica nos grandes centros urbanos e, ainda, aumentando o orçamento disponível das famílias.
Não patrocino o argumento do eleitoralismo (era o que faltava que um governante se visse obrigado a decidir mal só para não ser matraqueado com tal epíteto) e, até pelo contrário, contradito-o: governar bem é isto mesmo, melhorar a vida das pessoas, e é esse o dever primeiro dos detentores de cargos públicos. E nem embarco na crítica do benefício daquelas populações em detrimento das demais, como se isto se resumisse a um campeonato entre as metrópoles e o resto do país, pois, se por um lado o seu impacto ambiental, só por si, justificaria a dita medida, estou certa de que nos cabe agora a nós, habitantes do resto do país, exigir aos poderes central e local que adaptem e repliquem uma medida que muda a vida de todos (é esse o espírito da descentralização que tantos aplausos tem arrancado, e não o do aumento de ‘cadeiras’ e ‘tachos’ que atenuem a interioridade, como alguns discursos fazem parecer).
Em suma, por esta excelente medida, que ficará na história deste governo como a medida que mais melhorou a vida das pessoas, tiro-lhe o chapéu e cumprimento-o, António Costa: parabéns!
E falta ainda o passe familiar que também merece a minha aprovação. Aliás, de um governo cheio de parentes não seria de esperar outra coisa senão uma particular atenção à família. Nem sei porque raio os países desenvolvidos proíbem práticas que promovem grande intimidade e invulgar coesão. Estou mesmo a ver o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social a proteger a sua Marianinha e o Ministro da Administração Interna a ceder a cadeira à sua mulherzinha, ou o novo Ministro das Infraestruturas e da Habitação, cuja declaração de amor pela chefe de gabinete do Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares derreteu o país, a correr de Ministério em Ministério para lhe entregar em mão as flores que fazem fé daquela afeição e o pessoal menor a aplaudir, de lágrima no olho, grato por tanta emoção. Oxalá alguém tenha um telemóvel à mão e publique a história no Instagram. Que enternecedora cena, impossível num governo onde ninguém se conhecesse e nunca tivesse partilhado cama nem mesa, que enfado!
Isto, sim, é entretenimento de qualidade, merecedor de um ‘reality show’ em horário nobre. E se algum dos parzinhos se puser de candeias às avessas, é ver as audiências a disparar, na ânsia das pazes que sucedem a arrufos e amuos.
O Jerónimo de Sousa aprecia a democracia norte-coreana, de onde ninguém consegue sair, nós por cá prestamos vassalagem ao amor e à partilha socialistas, dignas do lema dos Mosqueteiros, “Um por todos, todos por um”, na versão “Eu dou um jeitinho ao teu rapaz e tu arranjas aí um lugarzinho para a minha patroa”. Entendem todos que são isto as democracias, sítios de onde ninguém pode sair ou onde todos os parceiros podem entrar. Pois, já que é uma questão de opinião, eu acho que não.
(Contrariando um lema que muito prezo, o de privilegiar o importante em detrimento do urgente, deixei hoje adiada uma reflexão referente à proposta do PS e PSD para que a legislação portuguesa preveja expressamente a residência alternada dos filhos de pais separados. Mas, crente da importância do tema, fica a mesma prometida. Hoje não quis deixar de assinalar a melhor medida deste engenhoso governo.)

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