A resposta à pergunta que ficou pendurada da semana anterior – como combater o desconforto da frágil ligação das pessoas com a rua? – revelou-se, ao longo destes dias, de complicada resolução. Embora nesta mesma linha eu próprio não consiga adivinhar o final da crónica, não se surpreenda, caro leitor, se lá mais para a frente se deparar com mais dúvidas que soluções.
Para melhor compreender o fenómeno, tomei a liberdade de nos últimos dias dar uso extra ao sapato. Viajo do mercado municipal para Buarcos, de autocarro, e regresso ao mesmo local, após o almoço, a pé. Se o percurso em transporte público é 3 vezes mais caro que usar um carro, algo de difícil justificação, o regresso é mais agradável e consegue-se a custo quase zero, não fosse o desgaste da sola.
Comprovo uma incómoda desertificação ao longo do caminho, qualquer que seja o trajecto. Os espaços por onde passo oferecem-me poucas razões para abrandar, admitindo, no entanto, ser parte integrante do problema.
Falta dinâmica e cuidado nos espaços, conjugado com o adormecimento da iniciativa privada e uma política urbanística onde o betão vence o peão. Acredito que um bom espaço público deve criar as condições para a permanência das pessoas. Deve ser convidativo.
Acima de tudo, é a vitalidade desses espaços que atrai as pessoas. E o que garante esta vitalidade é a possibilidade de se poder usufruir do espaço público de várias formas. A praça do Forte, junto à zona ribeirinha, consegue-o, pontualmente, apesar de todo um conjunto de pormenores que não permitem torná-lo num espaço de eleição. Havendo vontade, é possível fazer mais e melhor.