Opinião: Eutanásia da produção – As greves

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Ocorre-me, a propósito da petulância dos enfermeiros de cirurgia, relatar o que figurava num livro do liceu, uma história da Antiga Grécia. Um pintor pintou um quadro, expô-lo a quem passava e, escondido, atrás dele, ouvia as críticas. Um dos primeiros críticos era sapateiro e pronunciou-se sobre os chinelos que figuravam no quadro. Corrigida a pintura, ao passar no dia seguinte e vendo atendida a sua crítica, atreveu-se a apontar outros aspectos do quadro. O pintor sai detrás do quadro e diz-lhe: “Não vá o sapateiro além dos chinelos”.

Agora, da minha vivência. Após o 25 de Abril, à meia-noite, telefona-me uma enfermeira a comunicar-me que estavam a fazer greve. “Não têm vergonha? É à meia-noite que a fazem e que ma comunicam?”. Telefonei para os colegas médicos, individualmente, e que fosse um para cada enfermaria. Assim aconteceu. Suspenderam a greve.

Os assistentes da cadeira de ortopedia, na época dos exames, decretam greve. Não foi possível convencê-los a terem outro comportamento. Chamo o delegado de curso e digo-lhe: “Sou só eu a examinar-vos. Da nota que der não pode haver reclamação. Concordam?”. Concordaram. “Do exame consta o prático de uma história clínica e exame oral. Que fique bem vincado que da nota que der não há reclamação”.

Passava as noites, até às tantas da manhã, a ler as histórias clínicas para fazer os exames orais às oito horas. Desta conduta cheguei à seguinte conclusão: quando a história clínica era feita pelo próprio respondia, salvo uma ou duas excepções, à oral. Destes ensinamentos tirei a seguinte ilação: cuidado com o trabalho em grupo. Só um ou dois trabalham e os outros aproveitam.

Com o pós 25 de Abril, ocuparam-se as herdades e as fábricas. Iniciaram-se as greves que têm continuado, relatando que um meu amigo tinha 350 empregados no norte, na indústria têxtil. Foi à falência. Em Coimbra, a fábrica de têxteis instalada no Convento São Francisco produzia os tecidos de maior qualidade no mundo, tanto é que um meu amigo que se doutorou em Medicina foi comprar um fato e disse que queria do melhor que houvesse. Para sua surpresa, reparou que estava lá escrito o nome da fábrica de Coimbra. Os proprietários dessa fábrica, que viviam numa casa ao lado, até passaram fome e foram para o Brasil.

A indústria naval… A CUF (Companhia União Fabril)… A fábrica de carruagens… A fábrica de pneus… Tudo destruído. Neste momento não temos nada! Só restam burocratas e impreparados que prometem tudo e são irresponsáveis, porque não podem dar nada.

Mais impostos e mais impostos… Promessas incumpridas… Partidarice… Greves… Ameaças… Insegurança… Tudo a definhar…

Não é o patronato o responsável, nem os banqueiros… Venha um Governo de unidade ou solidariedade nacional, proceda-se sem partidarice,… Se houver unidade, volta-se à ruralização, não haverá necessidade de 90 mil emigrantes, nem 150 mil sem-abrigo. Disso eu tenho a certeza…

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