Opinião – Por favor, deixem os palermas falar

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Cinco décadas depois do famoso “é proibido proibir”, chocamo-nos com as manifestações de liberdade que não são do nosso agrado e, vai daí, toca a zurzir na liberdade, a murro e pontapé. Não, eu não prescindo da liberdade que outros corajosamente conquistaram, mesmo que ela garanta a voz a palermas, tão somente porque é este o preço da mesmíssima liberdade que me permite chamar-lhes assim ou coisa pior. Por isso, sim, deixemos os palermas falar e, de seguida, confrontemo-los, mas não os mandemos calar, tornando-os nuns pobres coitados, dignos da compaixão de todos os amantes da liberdade.

Em nome da liberdade, vamos lá deixar falar os Mários Machados e os Yann Moix deste mundo, acreditando que, quanto mais alto eles gritarem, mais longe se perceberá o tamanho da sua palermice.

O povo pode ouvir o tal Machado clamar por um novo Salazar, queixar-se de tudo e de todos, fingir-se de vítima e sei lá mais o quê… O povo pode ouvir tudo isto e muito mais e ainda deve saber que ele ameaça, insulta, espanca e mata e, assim, ouvindo-o e sabendo ao que vem, o povo desprezará tal palerma. Não o apouquemos, escondendo-lhe aquele e outros Machados, e deixemos os palermas falar, acreditando que, como diz a canção, não há machado que corte a raiz ao pensamento, porque o povo não é estúpido.

E atentemos num outro palerma, Yann Moix, o tal escritor francês que diz que “O corpo de uma mulher com 25 anos é extraordinário”, ao contrário do corpo de uma mulher de 50. Até aqui, estamos todos de acordo. Alguém negará que os corpos de 25 anos são muito mais bonitos do que os de 50, de homens ou de mulheres!? O problema é que o tal francês não se ficou por aqui e confessou que as mulheres de 50 são para ele “invisíveis” e que, por isso, não consegue amá-las. Pois bem, será mesmo um palerma, mas está no seu absoluto direito e merece até a minha piedade, já que nem imagino como terá ele a pachorra necessária para suportar as infantilidades e os caprichos típicos daquela fantástica idade. Mas, se ele a tem, e as miúdas também, encantada fico. A bem dizer, eu nem nunca gostei de palermas, de 20 ou 50. Ao contrário deste palerma, com a idade aprendi a tolerar a falta de firmeza dos corpos e os seus habituais arredondamentos, mas a patetice, nunca. E continuo a apaixonar-me, agora pela maturidade e pela distinção, pela genialidade e pelo encanto, pois a ternura dos 40 também já se foi.

Ora, estranhamente para mim, as mulheres não se compadeceram com a falta de capacidade de amar do senhor francês, mas indignaram-se a valer com a sua preferência por corpos mais novos e, vai daí, despeitadas, sacaram dos álbuns de férias e trataram de exibir corpos extraordinários, típicos da juventude que o palerma disse apreciar. Pois bem, foi um corrupio de fotos de cinquentonas, lindas de morrer, com corpos tão bonitos quanto os das filhas, mostrando sintomas do mesmo mal de que padece o francês e confundindo a beleza da juventude com a capacidade de amar e ser feliz.

Onde é que isto parará? Até quando vamos continuar a fingir uma juventude que já não temos, compondo narizes e orelhas, retocando rugas e repuxando glúteos? E às outras deficiências, que não cedem a agulhas ou bisturis, o que faremos? É esta a herança que deixaremos às nossas filhas, o mais apertado dos espartilhos?

Pois que não! E, às mulheres de 25, desejo agora que apreciem as maravilhas da juventude e que sempre se mantenham livres, nunca cedendo a gaiolas confortáveis e pomposas, oferecidas por um qualquer palerma.

 

Filomena Girão escreve à quinta-feira, semanalmente

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