Opinião: “O que faz falta é animar a malta”

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O ano começou com o discurso de tomada de posse de Bolsonaro, que nos fez esconjurar os populistas e temer o pior. Pois bem, quando menos esperávamos, o nosso Presidente puxou de uma ‘marcelice’ e tratou de animar a malta.
Já dizia o Zeca que o que faz falta é animar a malta e Marcelo Rebelo de Sousa sabe disso, nunca o escondeu. Pelo contrário, sempre que pôde, o Professor foi mangando com a rapaziada e tornou famosas muitas histórias da sua típica irreverência (a ida a casa de uma jornalista do Expresso à hora do jantar, com direito a uma sopa requentada e a uma foto de família, para lhe pedir desculpa por não lhe ter dado uma entrevista que lhe teria prometida; as “noites loucas do Marcelo” numa discoteca da capital e o mergulho no Tejo como acções oficiais da campanha na candidatura à Câmara de Lisboa; a ida a casa de um boémio que conhecera nas ruas de Fafe e que lhe pedira ajuda para obter o perdão da mulher pelos seus pecadilhos; a fuga nocturna de um retiro da Opus Dei, trocando o aborrecimento da introspecção pela folia da noite coimbrã; a recepção, em cuecas e peúgas, de um embaixador do Irão, convencendo-o de que não se levantava por respeito a um alegado costume português; as brincadeiras à saída de casa do amigo Guterres, tocando às campainhas dos vizinhos em plena madrugada; a famosa vichyssoise; as frequentes partidas no Expresso, atrevendo-se mesmo a escrever no jornal que “o Balsemão é lelé da cuca”, só para responder ao desafio de uma amiga).
Pois sim, o Presidente é cá dos nossos e gosta de animação. Desta vez, quem sabe se para se redimir da antiga brincadeira com o patrão da SIC, telefonou à amiga Cristina para lhe desejar boa sorte e, no mesmo programa em que o Presidente dos encarnados explicou que prefere fato-de-treino, mas que veste fato quando vai à televisão porque tem uma imagem a defender, Marcelo, o verdadeiro, o Presidente de todos os portugueses, quis provar ao país que não precisa de fatiota nenhuma e apresentou-se sem ‘gravitas’, de pelota, igual a si próprio, com um controverso “Bom dia, Cristina! Daqui, Marcelo. Interrompi uma reunião para lhe desejar boa sorte neste novo programa. Tinha de ser.”
Pois sim, tinha de ser, para animar os velhinhos, doentes e desempregados, que passam as manhãs à frente do ecrã, provando-lhes que o Presidente está atento a um povo cada vez menos sereno que precisa de voltar a acreditar em quem o governa para poder rejeitar discursos inflamados que dividem o país entre brancos e pretos, homens e mulheres, velhos e novos, ricos e pobres, e ameaçam a democracia.
Pois sim, é cá dos nossos o Presidente, quando abraça, beija, consola, dança e brinca, popular como nenhum outro, mas agora, em especial depois de, na mensagem de Natal, ter pedido aos políticos que se tornem dignos de confiança, é tempo de mostrar ao país porque sujou as mãos no lamaçal do ‘daytime’ e de usar esta imensa popularidade para combater o perigoso populismo que nos cerca, garantindo que o Estado cumpra as suas funções.
Pois sim, tirar-lhe-ei o chapéu pelo seu serviço à Nação, sempre que o Presidente aproveite a bendita fama para promover uma maior participação das pessoas na vida pública, para denunciar a falta de seriedade de muitas propostas políticas, para unir o país na defesa pela democracia que o Zeca cantava, para lutar por uma sociedade mais justa, capaz de renegar todos os populismos, porque, aí sim, a popularidade terá mostrado o seu valor e terá garantido que Marcelo não fique na História como o Obama português, o presidente que animou a malta, mas, no final, deu lugar ao Trump.

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