Opinião: Mensagem de Ano Novo. Façam o favor de ser felizes

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1. Negro por fora, iluminado por dentro

Acabo a minha visita a S. Martinho de Anta no moderno espaço Miguel Torga. “Arquitectado” por Souto Moura é constituído por sala de exposição permanente (dedicada à vida e obra de Torga), sala de exposição temporária, auditório e biblioteca . Inaugurada por Marcelo Rebelo de Sousa em 2016.

O exterior do edifício de xisto negro em contraposição ao interior branco e iluminado representam a dupla faceta de Torga. O xisto negro a forma como se apresentava aos outros que por ele passavam (solitário, de poucas falas, aparentemente triste e meditabundo, uma marca profunda de uma infância difícil transformada em rebeldia contra as injustiças dos poderes instituídos que coarctavam a liberdade de existir e de pensar).

O interior branco, iluminado (correspondente a uma alma simples e boa, um sonhador que através da escrita lutava por um Mundo melhor e mais justo)

2. Passei ali a tarde inteira. Uma autêntica lição de vida.

A exposição permanente está dividida em 3 partes: 1 ) o percurso de vida do escritor, 2 ) as facetas múltiplas de Torga, 3 ) A ligação ao território, a obra, a criação literária, o processo criativo.

Desta última parte retirei, uma frase, que vale a pena transcrever: “ Portugal – Foi a procurar entende-lo que compreendi alguma coisa de mim mesmo. As Pátrias são espelhos gigantescos onde se reflecte a pequenez dos seus filhos. Todos os Alcaceres-Quibires, todas as Aljubarrotas estão em mim. Descobri Mundos e ando repartido por eles. Tenho oitocentos anos de idade e pareço uma criança (Diário XV).

Mais frases intercaladas com fotografias oportunas entusiasmaram-me. E escrevi…escrevi muito! A tarde inteira. Uma autêntica lição de vida!

3. Subir lá acima a S. Leonardo da Galafura.

Para terminar com chave de ouro esta “visita a Torga”, uma ida ao Miradouro de S Leonardo da Galafura, a poucos quilómetros de distancia.

Torga, pensador, contemplativo, arquitecto das palavras, deslocava-se aqui com frequência para se maravilhar, para se inspirar, para se encontrar consigo e com a sua obra. O seu poema a este local, cravado na parede da Capela de S Leonardo, là no cimo, é disso prova eloquente. Começa assim:

“À proa de um navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, capitão no seu posto de comando, S. Leonardo vai sulcando as ondas da eternidade …..”

É um espectáculo para os olhos e para os sentidos, podermos daqui admirar o Vale do Douro em todo o seu esplendor, numa das suas mais belas panorâmicas de toda esta Região a quem Torga chamou, “ O Reino Maravilhoso”.

4. Façam o favor de ser felizes

Este cenário grandioso à nossa frente é prova irrefutável da presença divina. E fico espantado porque é que tendo este Mundo á disposição e andando nós à procura da felicidade, estejamos a construir e a viver numa sociedade cada vez mais complexa e infeliz.

John Steinbeck, um dos meus autores preferidos, no seu “Viagens com Charley” diz a certa altura: “ O homem teve até agora a inteligência necessária para cindir o átomo, mas ainda não teve a suficiente para se encontrar a si próprio no mais intimo do seu ser”.

David Brooks no seu belo livro “ O Animal social” escreve: “quer o homem individual, quer a sociedade em geral, para encontrar a felicidade têm ter uma perspectiva do Mundo e viver a vida, onde a emoção se sobreponha à razão, onde o espiritual se sobreponha ao material”.

Se conseguirmos este objectivo, o Ano Novo com todos os seus desafios aliciantes e projectos motivadores, abrirá á nossa frente o caminho que ansiosamente desejamos e queremos encontrar: “o de ser felizes”.

Caros leitores das Beiras desejo-vos a todos que, neste Ano Novo que hoje começa, façam o favor de ser felizes.

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