Em Portugal já se gastaram mais de 17 mil milhões de euros para salvar bancos. Quando se olha para as contas desses bancos, e se afasta a espuma da crise internacional, que teve efeitos, descobrem-se créditos sem garantias, corrupção, políticos sentados no conselho de administração a tomar decisões de risco, promiscuidade com o poder político e muita, mas mesmo muitas “habilidades” que tinha como objetivo enriquecer à custa dos contribuintes.
Mas, o número é de tal forma astronómico ( 9,1% do PIB) e teve um impacto tão significativo na dívida pública (só por causa dos bancos a dívida aumentou 12,3% do PIB), que vale a pena perceber onde foi “aplicado” esse gigantesco montante de dinheiro dos contribuintes: no BPN, no Novo Banco, no Banif, na CGD, em intervenções sucessivas que culminaram nos 4 mil milhões de recapitalização da CGD ( 2017 ) e nas novas necessidades de recapitalização do Novo Banco (fala-se em 850 milhões de euros em 2019 ). Só para terem um termo de comparação, o Ministério da Saúde tem um orçamento para 2019 de aproximadamente 11 mil milhões de euros, portanto, muito menos do que já gastamos com os bancos. Sabia?
O último caso desta novela de roubo aos contribuintes, é o que se foi passando na CGD. Uma auditoria da Ernest & Young (EY) ao período 2000-2015 da CGD, que ninguém queria pedir, mas que o Ministério das Finanças exigiu ao Banco de Portugal, revelou, dizem as fugas de informação, uma gestão desastrosa e contrária ao interesse nacional e dos contribuintes. No entanto, apesar de todos sermos donos da CGD, a auditoria não é conhecida. Anda a ser escondida pelas autoridades. Nem os deputados, que são os representantes do povo, puderam ter acesso a ela. No entanto, lá apareceu uma versão preliminar que mostra bem a dimensão da gestão danosa da CGD, que passava pela atribuição de crédito sem garantias reais e a aprovação de operações de risco mesmo contra a opinião do departamento de risco do banco. Os resultados foram milhares de milhões de euros de perdas.
Os gestores de topo que exerceram funções na CGD nesse período são conhecidos e andam por aí na banca, nas empresas e noutras entidades, como a Associação Portuguesa de Bancos (liderada pelo ex-gestor da CGD Faria de Oliveira) e o Banco de Portugal. Seria de esperar que o regulador, isto é, o Banco de Portugal, tendo em sua posse a auditoria, iniciasse processos de perda de idoneidade relativamente a esses gestores. Seria de esperar se Portugal fosse um sitio decente. Verificamos, no entanto, que nada disso aconteceu e nada se passou com o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que foi um dos gestores da CGD nesse período negro analisado pela referida auditoria. Isto é, se cumprisse o seu dever, o Governador do Banco de Portugal (BdP) teria de questionar também a sua idoneidade pessoal. Mas não só a sua, teria também de questionar a idoneidade da diretora do Departamento de Estabilidade Financeira do BdP (Ana Cristina Leal) e a do gestor do Fundo de Pensões do BdP (José de Matos). Segundo a auditoria da EY, os principais problemas detetados foram a concessão de créditos mal fundamentada, a atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, a interferência do Estado e ineficiências na gestão de risco.
As minhas perguntas, como contribuinte e cidadão preocupado com o futuro do país, são muito simples: Ainda não estão cansados? Até quando é que vão continuar a permitir este autêntico roubo aos recursos nacionais? Até quando vão continuar a permitir esta impunidade? Como é que é possível que não exijam conhecer, com ou sem selfie do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o detalhe do que se passou na CGD? E como é que continuam a aceitar que vos apresentem faturas para pagar, afirmando ainda, na vossa cara, que se devem ao facto de todos vocês andarem a viver acima das vossas possibilidades?
Repito: Ainda não estão cansados? Ainda têm recursos para pagar tudo isto? Não precisam deles para a vossa vida e para a vossa família? E vão continuar a pagar sem querer saber a verdade? Não chega? Ok!
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