O bolo-rei já não é o que era, não traz brinde, mas vem carregadinho de favas.
Só esta semana, uma barrigada de leguminosas.
Manso Neto quis explicar como é que o Pinho foi parar a Columbia com um patrocínio de mais de 1 milhão de euros da EDP e deixou escapar que as leis do Sócrates em matéria de energia foram afinal feitas por si próprio. Mais um amigo do nosso Zé, pois claro.
Rui Rio, determinado a garantir a vitória do amigo Costa, propôs encher o Conselho Superior do Ministério Público de compadres políticos. Pobre coxo, de tantos tiros no pé.
No Parlamento, a saga continua. Desta vez, Nuno Sá, deputado do PS, deixou o rabiosque ao léu quando postou a prova do pecado nas redes sociais e foi apanhado. Mais um que entregou a bolsa pela vaidade.
Mas a falta de vergonha dos oportunistas a quem a fragilidade da lei serve e a ética estorva, não se ficou por aqui. A Maria Begonha ganhou as eleições na JS e mereceu discursos inflamados dos mais reputados responsáveis do partido. Sem Begonha nenhuma.
O Estado falhou mais uma vez quando as comunicações de emergência tardaram na queda de um helicóptero do INEM e, pior, sem pejo nem pudor, as pessoas invadiram o local do acidente e roubaram despojos, comprometendo a investigação. Uma falta de respeito que acabou com o anúncio do espólio no OLX.
E a Lei de Bases da Saúde voltou a esquecer os Cuidadores Informais, deixando os mais vulneráveis ainda mais desprotegidos e o país envergonhado.
Assim, fava a fava, o populismo vai fazendo ninho. Dos cartazes do Chega na Praça de Espanha aos apelos à subversão popular nas redes sociais, o povo está pronto a aconchegar o primeiro semideus que tiver o ‘agrément’ da populaça para esconjurar pretos, ciganos, velhos, aleijadinhos e apoucados, trocando a caduca solidariedade humana pela glamourosa contemporaneidade dos afectos pela bicharada, num abrir e fechar de olhos.
Deixaremos os avós no lar porque não temos tempo para cuidar de quem por nós velou com a mesma determinação com que reivindicaremos novos direitos laborais para podermos acompanhar o periquito ao veterinário. Regatearemos o preço dos andarilhos daqueles para pouparmos para os tratamentos estéticos destes. E felicitaremos a criação de novos e modernos negócios, ginásios para felinos comparsas, babysitting para caninos amigalhaços, adornos para iguanas coquetes ou alfaiates para papagaios bem-falantes, o real fungagá da bicharada.
Neste novo tempo, reinará quem perceber que o discurso varonil está fora de moda porque a semente da vida já se reproduz em laboratório; dominará quem entender que os homens, fonte de vida, estão ‘démodés’ e ganharão os especialistas num discurso feminal, dirigido às minorias étnicas, sociais e económicas, ditando quotas e mais quotas e esquecendo que, do outro lado do Atlântico, a sua imposição gerou ‘atestados de negrura’, em tudo semelhantes aos atestados de limpeza de sangue dos cristãos-novos ou de pureza ariana. E o que parece diferente é igual, afinal.
E os culpados seremos todos nós que toleramos a idiotice de quem prega uma igualdade, tão bacoca quanto injusta, todos quantos calamos a única verdade que pode proteger os mais frágeis: não, não somos iguais e nem teremos oportunidades iguais, mas, sim, merecemos igual respeito.
Se o não fizermos e não exigirmos aos Costas, Rios e Companhia, que façam o que lhes compete com seriedade, ficaremos à mercê de um qualquer semideus e de novo daremos razão ao Eça porque “no fundo, somos todos fadistas, gostamos de vinhaça, viola e bordoada, e, viva lá, compadre”.