Assisti a um debate na Rádio Universidade de Coimbra, no programa 1111, entre deputados municipais representantes de algumas das forças políticas representadas na Assembleia Municipal. Confesso que achei o debate confrangedor, pela qualidade da argumentação e pelo aparente desinteresse pelo estado da cidade. No entanto, o assunto em debate merece reflexão e intervenção.
Merece o executivo da CMC ser censurado?
Sim, merece. As razões são várias, mas podem ser resumidas em alguns pontos breves. A atual maioria relativa do PS ganhou as eleições com uma ilusão sobre a valorização de Coimbra. O foco foi colocado na área económica (um dos maiores falhanços da administração de Manuel Machado, bem visível pelo total abandono de parques industriais, pela desconsideração pelo comércio e pela total ausência de coordenação com a Universidade e a área da saúde, e pela incapacidade de ser atrativo para atividades industriais com efeito âncora); nos transportes (nem vale a pena falar no descalabro do Metro-Mondego, do remendo denominado Metro-Bus e na mentirola do Aeroporto Internacional); na relação da cidade com o rio (totalmente desprezada e com uma péssima qualidade do equipamento urbano); na cultura (absolutamente incompreensível a “política” cultural, com uma candidatura a capital europeia da cultura que é tudo, menos uma candidatura com cabeça, tronco e membros); na baixa (absolutamente abandonada) e na visibilidade da cidade em termos nacionais e internacionais (Coimbra tem perdido importância e é hoje uma cidade pequena em termos nacionais, muito pouco visível em termos internacionais). Coimbra falhou redondamente e está a atrasar-se de forma muito significativa, sendo hoje uma cidade apática e sem grandes motivos de atração de pessoas e atividade económica.
Faz sentido uma moção de censura no momento político atual? Não. Não tem nenhum efeito, como demonstrou o debate que vi na Rádio Universidade. A moção foi totalmente irrelevante e foi, provavelmente, mais importante para quem a apresentou do que para a cidade e região.
Então o que é que seria necessário?
Construir, pela positiva, uma alternativa credível. Isso significa debater a cidade e propor soluções, objetivas, claras, calendarizadas. O que há a fazer implica um muito longo caminho de mais de 20 anos, com políticas continuadas, de rutura, nas várias áreas em que nos atrasamos definitivamente. Não há soluções fáceis, construídas uns meses antes das eleições que vão produzir resultados imediatos. Dizer isso, sugerir sequer que isso é possível, é uma MENTIROLA tão grande, ou maior, que a mentirola do Aeroporto. Coimbra precisa de chamar a si, ao serviço do desenvolvimento da cidade, um conjunto de pessoas que estão muito longe da vida pública, dos partidos e da participação política, mas são essenciais numa estratégia continuada que permita à cidade reorganizar-se, tirar partido das suas enormes potencialidades, para ser mais atrativa para a fixação de pessoas, nomeadamente daquelas que criam oportunidades e atividade económica. Coimbra tem de crescer demograficamente, economicamente, em visibilidade, em qualidade de vida, em qualidade do espaço público, na qualidade dos serviços para as famílias, na relação com a sua universidade, na capacidade de a universidade criar valor na cidade, na capacidade de gerar valor e emprego na área da saúde e numa imagem renovada que terá de ter por mote o futuro. Coimbra não pode mais ser passado e viver do passado. Chega! Por isso, uma estratégia de futuro, necessariamente juntando as pessoas que não votam geralmente, e que são a maioria, tem de colocar estes assuntos na ordem do dia e tem de definir planos, intimando essas pessoas a intervir. Em tempos, sugeri o lançamento de uma iniciativa denominada “Coimbra Talks”, a partir de 2019. Estou plenamente convencido que é isso que deve ser feito, permitindo agrupar competências e vontades, equipas, definir caminhos e montar planos objetivos que tenham por meta resultados concretos. Coimbra tem de tomar o seu futuro nas suas mãos. É totalmente irrelevante quem vai ser o próximo presidente da câmara. Se é conhecido, se foi isto ou aquilo, se tem pedigree, é médico, professor, lojista, ou outra coisa qualquer, se aparece na TV, se escreve nos jornais, ou sequer se alguém o/a conhece. É esse o erro que continuamos a cometer e que eu, pessoalmente, me recusei a validar em 2017. O que é relevante é que a inteligência e competência da cidade, na sua maioria anónima, tome consciência do caminho que seguimos e decida (por vontade, como dizia o meu avô) arregaçar as mangas para o inverter. Porquê? Porque gostam da cidade, são daqui por paixão, por escolha e por vontade e sabem que esta cidade pode, de facto, ser um exemplo.
Isso vai alguma vez acontecer?
Se não acontecer, o atraso que registamos será definitivo e não será recuperável. Sem querer ser catastrofista, Coimbra terá de decidir o que quer ser. Se não quer ser nada, ou quer ser irrelevante, então o melhor é não mexer em nada e continuar com estes exercícios políticos de total inconsequência. Estamos a fazer tudo bem para conseguir esse objetivo da total e absoluta irrelevância.
Opinião – Moção de Censura
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