Opinião: Gerindo

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Sara Teotónio Dinis

Se aos 18 anos me dissessem que ao longo do meu percurso na Medicina eu iria adquirir conhecimentos e experiência em áreas como Economia e Gestão, Psicologia e Informática, não sei se iria acreditar…

Facto é que, como Médica de Família, para além de tratar os doentes e prescrever medidas terapêuticas farmacológicas e não medicamentosas, eu também sou capaz de exercer as funções de uma:

– dactilógrafa: quando transcrevo resultados de exames complementares de diagnóstico (a iniciativa Exames Sem Papel dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde conseguiu a proeza de ser premiado antes mesmo de funcionar);

– informática: quando o computador e/ou a impressora deixam de funcionar;

– gestora: quando faço ginástica com os ponteiros do relógio nas várias tipologias de consultas; quando considero os vários meios de tratamento; quando considero os recursos económicos do doente, bem como a sua capacidade física de se deslocar aos locais onde faz os exames complementares de diagnóstico e terapêutica e/ou os tratamentos de que necessita; quando, como coordenadora da minha micro-equipa, eu construo o meu horário de trabalho, ou agendo procedimentos terapêuticos de acordo com os recursos materiais existentes no meu Centro de Saúde (de momento bastante insuficientes, por sinal); quando pondero a referenciação do doente aos Cuidados de Saúde Secundários e verifico quais instituições de saúde serão capazes de dar resposta ao problema em tempo útil e adequado (estando praticamente todas elas em incumprimento dos Tempos Máximos de Resposta Garantida);

– psicóloga: quando reúno condições para ouvir os doentes, testemunhar o seu sofrimento, e faço intervenções breves de psicoterapia cognitiva e comportamental, para as quais não tenho formação especializada, mas que me vi obrigada a aprender, em regime autodidata, dada a necessidade urgente e fundamental de Psicólogos nos Cuidados de Saúde Primários.

Ultimamente, com a publicação dos Programas Nacionais de Promoção da Alimentação Saudável e da Atividade Física – que tanto gabarito dão ao domínio web da Direção-Geral da Saúde – suspeito que deva proceder ao mesmo investimento pessoal na formação profissional nas áreas da Nutrição e do Desporto.

A Gestão é talvez a competência que mais nos desafia… Veja-se, por exemplo, o caso dos Diretores Clínicos dos Hospitais Centrais onde está atualmente em curso a «Greve Cirúrgica» dos Enfermeiros… O conflito entre a gestão dos recursos humanos que têm o seu direito à greve e a gestão da prestação de serviços cirúrgicos a doentes que deles necessitam é por demais evidente, e as consequências são imprevisíveis dada a natureza das patologias que ficam «em espera»…

Observe-se, também, o caso da nossa Ministra da Saúde, Marta Temido, que sendo Gestora terá de se confrontar com um Ministério das Finanças que hipoteca o futuro de Portugal com gestões a um ano no que toca ao défice orçamental, e não contempla medidas de fundo com consequências para além dos quatro anos da legislatura… Grande demanda a aguarda, mas quero confiar que, sendo Gestora, não vá cair na tentação da redenção, e abdicar facilmente dos ensinamentos da sua doutrina económica… Na prevenção está o ganho e ainda haverá Portugal depois de 2030…

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