Há regiões assim. São conhecidas por designações que aparentemente pouco ou nada dizem de si. Como acontece com a parte central de Portugal, que sendo nos dias de hoje conhecida como região Centro, era outrora designada como sendo a das Beiras, da Alta à Baixa, e à do Litoral. Mas as Beiras dizem cada vez mais qual a sina da região Centro. Julga que não? Olhe que sim…
A região Centro está nas beiras de Espanha, que se vai distanciando de Portugal no que toca ao crescimento económico e ao desenvolvimento humano, apesar dos seus grandes problemas de desemprego, em que tal como cá, sobressai o dos jovens, e das reivindicações de independência de regiões autónomas, de que a Catalunha é problema bem maior do que o da ilha da Madeira.
E se parte das Beiras integra o Maciço Central Ibérico, outra parte bordeja o Oceano Atlântico, que noutros tempos foi tão português, e no qual mantemos uma extensíssima Zona Económica Exclusiva, para a qual temos tido “mais olhos que barriga”, pois nem sequer há meios navais para a patrulhar, e outros meios para explorar o que o direito internacional nos outorgou. Diz que há uma ministra do Mar? Mas não será apenas, mais uma das designações que nada dizem?
O Centro chega também à beirinha da incontestada capital da região Norte, que tem empresas sonantes, turismo galopante, estaleiros navais, portos de mar de grande calado e um aeroporto internacional. O Norte também tem um nordeste transmontano perdido para lá do Marão, mas nesse, mandam os que para lá estão! Mas o Centro nem capital tem, e os portos de mar que tem não permitem que neles acostem transatlânticos e demais grandes navios porta contentores. E quanto a haver aeroporto internacional no Centro, a derradeira machadada neste sonho foi dada com a peregrina ideia de Soure, bem na rota dos peregrinos que do litoral norte vão para Fátima.
Mas as Beiras de antanho foram, e são, tão capitais, que o Centro, a bem da nação, foi estendido administrativamente até à beira de Lisboa, que sem ser oficialmente capital do Reino, há muito reina em Portugal. Lisboa lembra o Rei-Sol, não na opulência, que nem somos ricos para tal, nem temos dimensão para sermos estrela de primeira grandeza, mas na ideia colossal de Lisboa ser Portugal, e o resto do país, paisagem. Não será antes, miragem? É que no caso do Centro, que está sempre à beira de mais um enorme incêndio florestal que destrua o que ainda nos resta, a paisagem deixou de ser verdejante, como era no tempo do maior pinhal contínuo da Europa, para ser um mar de cinzas, que faz lembrar a escuridão das profundezas do mar dos Sargaços…
De vez em quando, Lisboa lembra-se do interior ostracizado, pelo que, de quando em vez, há uma secretaria de estado que deixa Lisboa e ruma para a beira de mais de um quinto do povo português, que vive numa das mais pobres das regiões europeias, no que tem sido sempre sol de pouca dura! Como será certamente com a Secretaria de Estado da Valorização do Interior em Castelo Branco, à beira da A23, e a duas horas da capital. Mas quem governa sabe que deslocar um Secretário de Estado, e uns funcionários, não levará a nada. Melhor, conduzirá ao esbanjar de alguns euros, mas não fixará muitos quadros qualificados, nem criará a bendita massa crítica.
Ora o interior precisa de muita gente sábia e fazedora, para inverter infindos ciclos de migrações que esgotaram as Beiras, e o resto do país que faz fronteira com Espanha. Pelo que as Beiras carecem de uma discriminação positiva, que permita criar novos pólos de fixação empresarial. Para tal, terá de haver hospitais, tribunais, escolas, universidades, e muito mais. Pelo que muito terá de lutar Catarino, para convencer Centeno que já não é tempo do interior só comer centeio.
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