Opinião – A cada cavadela, sua minhoca

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Um grupo de encapuzados anunciou uma luta armada, invadiu propriedade privada, agrediu, sequestrou, divulgou imagens ameaçadoras, autodefiniu-se como IRA e agora quer convencer o país da benevolência da sua guerrilha. Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele!

E pior, uma parte deste país respondeu-lhe com mensagens de incentivo e contribuiu entusiasticamente para o reforço dos meios necessários à Intervenção e Resgate Animal. Não fossemos nós, os outros, todos aqueles que, independentemente da bondade dos fins, condenamos a acção directa (excepto quando ela for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais), e eu abençoaria a sincronia: não se estragariam duas casas, como diz o povo sábio.

Assim, crente na razão dos defensores do Estado de Direito, aguardo expectante as suas manifestações, tão públicas quanto as condenações aos polícias que publicaram a fotografia da detenção de uns criminosos foragidos à justiça e tão sonoras quanto os insultos ao Manuel Alegre por conta do seu amor pela tourada.

Bora lá, malta, por uma vez, toca a twittar em defesa das vítimas! Olé!

E, aproveitando o embalo do Twitter, lutemos também pelo reforço do ensino da língua portuguesa aos governantes deste país! Ensinemos às eminências o significado de iminente, imediato, próximo, prestes a acontecer, e, de caminho, ensinemos-lhes o valor das funções de Estado que lhes estão incumbidas.

Já se percebeu o propósito de tal lição. Numa antecipação da mal-afamada Blue Monday, vivemos uma segunda-feira negra, entre Borba e Vila Viçosa: a estrada desabou e levou para o fundo da pedreira quem por lá passava. Surpreendentemente, todos os entrevistados, sem excepção, disseram que “já se sabia que isto ia acontecer” e, como a gente se acostuma à desgraça, dois dias passados, poucos choram a morte de pessoas inocentes que foram engolidas por lama e entulho.

Há muito se temia este desfecho e desde há 4 anos que se recomendava o encerramento da fatídica estrada por se encontrar em ‘perigo iminente’, apesar de também se ter sabido entretanto que, já este ano, a Infraestruturas de Portugal aprovara este trajecto para a passagem da Volta a Portugal em Bicicleta, atestando a sua qualidade e segurança. Ao que parece, o país está mesmo à deriva, entregue a uma horda de perigosos incompetentes: a cada cavadela, sua minhoca!

Ora, o mesmo Presidente de Câmara que naquela altura prometera uma decisão urgente, veio agora garantir que “tudo será avaliado pelas entidades competentes, como é a Câmara, que avaliará o que foi bem ou mal feito” e acrescentou “Quem impede que haja um terramoto ou uma inundação?”. Pois não se inquiete Senhor Presidente, porque de si não esperamos tamanha graça, mas antes meros desígnios humanos, os bastantes para encerrar vias em comprovado risco de aluimento. De si, esperamos apenas que exija do poder central os meios necessários para assegurar as atribuições que lhe competem. De si e de todos os autarcas, em tempo de descentralização de poderes centrais para as autarquias locais, esperamos a responsabilidade correspondente à autonomia que vaidosamente vão aceitando, para que não se tornem nuns ornamentais pavões, mas que se transformem em verdadeiras eminências para as populações que vos confiam os seus destinos. E, para isso, só precisam de excelência e elevação, o que, aparentemente, não será o seu caso, nem o de tantos outros edis desta nação, mais servis ao partido do que ao povo.

Antes o Juncker, com sapatos trocados, ciática e tudo… pelo menos, faz-nos rir!

 

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